24/04/2025 - 07:18
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Portugal: Jovem foi condenada a sete anos de prisão por cyberbullying

A justiça portuguesa nunca tinha visto um processo assim. E as juízas que presidiram ao julgamento não hesitaram: sete anos e nove meses de prisão como pena para uma jovem que cometeu cyberbullying, onde perseguia suas vítimas através de mensagens, telefonemas e e-mails.

A CNN Portugal teve acesso aos arquivos das decisões finais do crime, que veio à tona em fevereiro de 2024 e mais parece o enredo de uma série de televisão.

Tudo começou no dia 20 de março de 2019. A data poderia ter sido qualquer outra, porque nem o julgamento conseguiu esclarecer os motivos que levaram Sofia a perseguir Inês (nome fictício), uma caloura de uma universidade de Lisboa da qual ela também era aluna.

As duas se conheceram através das redes sociais, quando Sofia criou diversas contas falsas, com o objetivo de se se aproximar de Inês. Durante dois anos, Sofia enviou milhares de e-mails com mensagens perturbadoras, tentando chamar a atenção da vítima de todas as formas – tendo sucesso em algumas.

Durante esse mesmo tempo em que sofreu esse assédio constante, Inês também foi coagida por Sofia a desistir de seu curso, mais tarde divulgando imagens dela na instituição onde as duas estudavam e através de outras da mesma região.

Encomendas em nome da vítima foram feitas em sexshops, lojas de beleza e até em restaurantes, chegando até a marcar consultas médicas, indicando sempre o endereço eletrónico de Inês. O sobressalto era diário e constante.

A cada e-mail, Sofia juntava mais destinatários para além da vítima. Na universidade, todos sabiam o que estava acontecendo. Nem a mãe, a tia ou o irmão de Inês escaparam do assédio.

Sofia fez, inclusive, um obituário de Inês e enviou-o para várias pessoas e instituições. E, durante a pandemia, chegou a criar uma página de angariação de fundos para que Inês pudesse ir para Wuhan, na China.

Mas, Sofia não perseguiu Inês apenas anonimamente. Em maio de 2019, ela procurou seu perfil do Facebook, enviando uma mensagem exprimindo preocupação quanto a um suposto bullying que ela estava sofrendo na faculdade:

“Olá. Nem sei como falar isso sem soar estranho, mas você é do (…)? É você que vem sofrendo bullying por parte de 2/3 garotas do seu curso? Criaram um perfil falso no Instagram para inventarem fofocas sobre você há mais de um mês?”.

Assim começou a conversa. E de perto, ela conseguia perceber o efeito das suas ações. Além da família de Inês, algumas amigas e colegas também foram perseguidas, com mensagens, encomendas, acusações ou dezenas de pedidos de alteração de palavras-passe para e-mails e redes sociais.

Sofia intimidava-as com a divulgação de dados se não levassem a sério determinadas ações contra Inês. Por exemplo, deixarem de segui-la nas redes sociais. Ou então, exigia novas fotos de Inês.

O objetivo final era fazer com que Inês desistisse do curso. Para os milhares de e-mails, telefonemas e mensagens, Sofia usou VPN (rede de dados privada), plataformas de endereços eletrónicos encriptados ou recorreu a falsificação de informações para culpar outras pessoas, que poderiam ser as próprias vítimas.

Os colegas de Inês chegaram até a ser alvo de buscas por parte das autoridades, período em que viveram uma humilhação que não irão esquecer, recebendo olhares tortos até dentro da universidade.

No dia 13 de janeiro de 2020, quase um ano depois desde o início dos assédios, algo inesperado aconteceu. Do próprio endereço de e-mail, Sofia enviou uma mensagem para várias pessoas onde admite a autoria dos crimes.

“Tirem print desse e-mail e mostrem para todos os idiotas que envolvi. Sério, torne-o famoso (…). É minha cartada final, me dêem algum crédito. Como afirmei várias vezes, ‘poder é poder’ e não fiz nada além de esfregar na cara de vocês que não preciso me esconder. Então, aproveito para esfregar na cara de vocês que sim, eu fiz tudo, e que sim, eu incriminei as outras três idiotas. E uma coisa é certa, eu tive a diversão da minha vida. A única coisa que pesa na minha consciência foi ter usado aquelas garotas, que não tinham nada a ver com nada. (…) Não, não vou alegar que entraram na minha conta, chantagens, etc, porque ninguém está me coagindo, aliás, não vou alegar nada, porque qualquer tentativa de contato de vocês será negada, todo mundo está bloqueado em todo lugar”, escreveu.

No entanto, quando confrontada com a mensagem por Inês, ela admitiu que a escreveu, mas negou ter praticado os fatos. Poucos dias depois, uma nova mensagem foi enviada a alguns colegas, dando conhecimento da morte de Inês.

Quase dez dias depois, essa mensagem chegou na mãe de Inês, em empresas, no jornal da região onde a vítima morava e até em escolas onde ela teria estudado. No texto, Sofia escreveu:

“É com tristeza nos nossos corações que informamos que a nossa estimada colega (…) faleceu perdendo a batalha para uma infeção. No dia 26 vamos fazer um minuto de silêncio em sua memória, às 9:40 antes do funeral. Gostaríamos que participassem, estejam onde estiverem. O seu coração bom e puro e a sua boa disposição nunca irão morrer dentro de nós. Vamos homenageá-la! Compartilhem.”

Junto da mensagem, ela colocou duas fotos de Inês com o obituário, identificou um local e o horário do funeral, tal como do velório. No final, ela ainda assinou como “A família”.

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