O ataque fatal de uma onça-pintada a Jorge Avalo, um caseiro de 60 anos, na região isolada de Touro Morto, Pantanal de Mato Grosso do Sul, em 21 de abril, reacendeu o debate sobre a interação entre humanos e grandes felinos.
O incidente é considerado raro e atípico, pois a onça-pintada não costuma ver o ser humano como presa natural.
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Especialistas e autoridades investigam o caso, apontando que a fatalidade pode ser resultado da combinação de fatores humanos e ambientais. Entre os fatores humanos, a prática de “ceva” – alimentar animais silvestres para atraí-los – é citada como particularmente preocupante.
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Considerada crime ambiental, a “ceva” pode fazer com que os animais percam o medo natural de se aproximar de humanos, associando a presença humana a alimento.
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O professor especialista, Gediendson Araújo, descreveu à CNN que a situação como “absolutamente atípica” e decorrente de uma habituação do animal ao local, algo que também foi sugerido pelo sobrinho da vítima, que relatou avistamentos diurnos da onça perto de instalações do pesqueiro, onde residia a vítima.
Do ponto de vista ambiental, a região de Touro Morto, parte do Pantanal, é um habitat natural para a onça-pintada e a onça-parda, com um alto grau de conservação que favorece a preservação das espécies.
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No entanto, a geografia isolada cria um “vazio demográfico” onde a natureza predomina, mas também há atividades humanas presentes. A expansão da pecuária nessas áreas leva a conflitos frequentes, com onças atacando gado doméstico.
As autoridades e a perícia criminal consideram outras hipóteses para a motivação do ataque, além da habituação. Entre elas, estão a escassez de alimento na natureza, um comportamento defensivo, o período reprodutivo do animal – machos podem se tornar mais agressivos – ou alguma atitude involuntária da vítima.
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A onça apontada como responsável pelo ataque foi capturada na madrugada do dia 24 de abril no mesmo local do incidente. O animal, um macho, foi levado para o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS) em Campo Grande para exames, estabilização e recuperação.
O incidente reflete um problema mais amplo, de acordo com as análises feitas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Estudos demonstram ameaças à onça-pintada, resultantes do crescente contato com atividades humanas. A perda e fragmentação de habitat, causadas pela expansão de atividades econômicas e infraestrutura, são as principais ameaças à conservação da espécie.
Essa fragmentação resulta em maior proximidade das onças com populações humanas e maior suscetibilidade a fatores de risco, como atropelamentos e conflitos socioambientais. A retaliação pela predação de rebanhos é uma importante causa de mortalidade para as onças-pintadas, especialmente no Pantanal.
O caso do caseiro morto em Mato Grosso do Sul está sob investigação, com análises de imagens de rotina dos animais e outras evidências sendo realizadas para entender o que ocorreu.