Às vezes, os cães surpreendem seus tutores com comportamentos curiosos, e um dos mais comuns é a clássica perseguição ao próprio rabo. Essa cena pode parecer divertida e até inofensiva, mas tem razões que vão além da brincadeira.
Pode estar ligada à energia acumulada, à necessidade de atenção, a instintos naturais ou até mesmo a questões de saúde. Observar a frequência e o contexto desse comportamento ajuda a compreender melhor o bem-estar do seu amigo de quatro patas.
Frequentemente observado em filhotes e cães jovens, a perseguição do rabo pode ser uma manifestação lúdica de descoberta do próprio corpo, especialmente em cães com caudas longas e chamativas.
Nesses momentos, o cão geralmente exibe um comportamento alegre e relaxado, sem sinais de angústia.
Similarmente, essa perseguição pode ser uma demonstração de felicidade e desejo de interação com seus tutores, acompanhada de pulos, latidos ou apresentação de brinquedos, sendo, por vezes, reforçada pela atenção e reações positivas dos humanos.
Cães com energia acumulada e sem enriquecimento ambiental adequado podem desenvolver o hábito de perseguir o rabo como uma forma de autoestimulação devido ao tédio.
Avaliar a rotina diária do animal, incluindo tempo de brincadeira, atenção e oportunidades para exercício físico e exploração olfativa, é fundamental para determinar se a falta de estímulos está contribuindo para esse comportamento.
Em alguns cães, a perseguição do rabo pode evoluir para um comportamento compulsivo associado à ansiedade.
Um estudo publicado no “Frontiers in Veterinary Science” afirma que esse transtorno pode se manifestar entre os 6 e 12 meses de idade e, se não for identificado e tratado, pode levar à automutilação da cauda e agravar ainda mais a ansiedade do animal.
Quando um cão que normalmente não persegue o rabo começa a fazê-lo e, principalmente, a mordê-lo, é um forte indicativo de desconforto físico.
Diversas condições podem estar subjacentes, desde infecções de pele, como dermatites causadas por picadas de insetos, até fraturas na cauda.
A mordida na cauda pode expor vértebras e nervos, dificultando a cicatrização e aumentando o risco de infecções graves, podendo, em casos extremos, levar à amputação.
Outros sintomas preocupantes que podem acompanhar a perseguição e mordida da cauda incluem letargia, perda de apetite, vômitos, diarreia ou dificuldade de movimentação dos membros traseiros, podendo indicar problemas mais sérios, como neurofibromas.
Por fim, a presença de pulgas e carrapatos na base da cauda é também uma causa comum de coceira intensa, levando o cão a perseguir e morder a região para aliviar o incômodo. A observação atenta desse comportamento é importante para identificar a causa.
Uma pesquisa publicada no “PLOS ONE” analisou centenas de vídeos de cães no YouTube e identificou que, embora muitas vezes percebida como engraçada ou fofa, a perseguição da cauda pode indicar problemas de bem-estar.
Cerca de um terço dos cachorros observados mostrou sinais clínicos, como fazê-lo habitualmente (diariamente ou constantemente) ou de forma persistente (sendo difícil de distrair), o que sugere uma possível condição patológica.
O estudo também destacou uma grande diferença entre a percepção pública e os indicadores de bem-estar canino.
Os tutores e espectadores nos vídeos raramente reconheciam os sinais problemáticos, descrevendo o gesto como “engraçado” ou “fofo” e frequentemente respondendo com risadas ou encorajamento.
Essa normalização e reforço, especialmente em casos recorrentes, podem levar a que o comportamento patológico não seja tratado, potencialmente agravando o problema de saúde do animal.
Portanto, lembre-se: se for apenas uma brincadeira, não há problema em deixar seu cachorro perseguir o rabo ocasionalmente.
Mas se for algo frequente, compulsivo ou acompanhado de mordidas e lesões, pode indicar um problema. Nesse caso, é recomendado consultar um veterinário para garantir um tratamento adequado ao seu pet.