03/05/2025 - 07:59
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Múmia do século XVIII está bem preservada devido a embalsamamento incomum

Guardados na cripta de uma igreja em uma remota em uma Vila na Áustria, um conjunto de restos humanos incomumente bem preservados tem sido uma rica fonte de rumores e especulações.

A tradição local sugeria que o corpo mumificado, pensado ser de um clérigo do século XVIII que sucumbiu a uma doença infecciosa, havia sido retirado de um túmulo alguns anos após a morte e transferido para a cripta da Igreja de St. Thomas am Blasenstein, uma igreja em uma vila ao norte do rio Danúbio, na Áustria.

A preservação milagrosa do corpo — com a pele e os tecidos intactos — logo atraiu peregrinos que acreditavam que os restos poderiam possuir propriedades curativas. Séculos depois, um objeto em forma de cápsula detectado em uma radiografia da múmia revelou que o clérigo pode ter tido um fim mais sinistro, sugerindo que ele poderia ter sido envenenado.

Agora, uma equipe de cientistas está oferecendo novos insights sobre muitas das questões ainda não respondidas que cercam a misteriosa múmia, apelidada de “capelão seco ao ar”. As revelações vêm após uma recente restauração causada por um vazamento de água na cripta, que criou uma oportunidade inesperada para realizar uma análise científica de ponta no cadáver.

“Nós pegamos a múmia por alguns meses para fazer exames com nossas equipes especializadas, tomografias computadorizadas e assim por diante. Enquanto isso, tiveram tempo para restaurar”, disse Andreas Nerlich, professor de medicina na Universidade Ludwig-Maximilians de Munique, na Alemanha, que liderou a pesquisa. “Foi uma situação vantajosa para ambos. Ficamos com a múmia tempo suficiente para fazer uma análise perfeita.”

Através de tomografia computadorizada, datação por radiocarbono e análise química de amostras de ossos e tecidos, Nerlich e seus colegas puderam confirmar a identidade da múmia e determinar a maneira única como o corpo foi preservado por tanto tempo. Os pesquisadores relataram suas descobertas em um artigo publicado na sexta-feira na revista Frontiers in Medicine.

A maior surpresa do estudo veio como resultado da tomografia computadorizada: os cientistas descobriram que a cavidade abdominal e pélvica da múmia estava repleta de material como lascas de madeira de pinheiro e abeto, linho, cânhamo e tecido de linho, incluindo alguns delicadamente bordados. Análises toxicológicas adicionais revelaram vestígios de cloreto de zinco e outros elementos.

“Foi realmente inesperado porque as paredes do corpo estavam completamente intactas”, disse ele.

Para explicar essa aparente contradição, a equipe teorizou que o material foi provavelmente inserido através do reto. E os pesquisadores acreditam que é a mistura de materiais que manteve a múmia em seu aparente estado seco ao ar.

“As lascas e o tecido teriam segurado a água. O cloreto de zinco teria um efeito secante e reduziria a carga de bactérias no intestino”, explicou Nerlich.

Esse método de embalsamamento difere dos métodos mais conhecidos usados no antigo Egito, nos quais é necessário abrir o corpo. A técnica vista no clérigo também não havia sido registrada na literatura científica anteriormente, acrescentou Nerlich.

Ele acredita que o método, embora não registrado em livros didáticos da época, pode ter sido amplamente utilizado no século XVIII para preservar um cadáver para transporte ou exibição.

As práticas de mumificação provavelmente eram muito mais amplas e diversas no passado, disse Gino Caspari, arqueólogo e editor de “The Book of Mummies: An Introduction to the Realm of the Dead”.

Quando examinadas com novas técnicas interdisciplinares de análise, as múmias oferecem uma fonte mais rica para o estudo do passado do que restos puramente esqueléticos, acrescentou Caspari. “Podemos obter muito conhecimento a partir de restos mumificados: isso vai desde o estudo de doenças e tratamentos médicos até o uso de substâncias e aspectos culturais como atitudes em relação à morte e ao corpo”, disse Caspari, que não participou da pesquisa.

Embora seja claro que o “capelão seco ao ar” não seja uma múmia natural, análises mais detalhadas são necessárias para afirmar definitivamente se o cloreto de zinco foi utilizado para preservar os restos, disse Marco Samadelli, pesquisador sênior do Instituto de Estudos de Múmias do Eurac Research, um instituto de pesquisa privado em Bolzano, Itália, onde está localizada a múmia de Ötzi, o Homem do Gelo.

Samadelli observou que pequenas quantidades de arsênico, um agente de embalsamamento bem conhecido, também foram detectadas na múmia.

A equipe concluiu que o corpo mumificado era de Franz Xaver Sidler von Rosenegg, um aristocrata que foi monge antes de se tornar vigário da paróquia de São Tomás am Blasenstein por cerca de seis anos.

Ele morreu enquanto estava nesse cargo em 1746, aos 37 anos. Entre os moradores locais, a múmia era considerada Sidler, embora não houvesse evidência escrita a esse respeito, segundo o estudo.

A datação por radiocarbono do espécime colocou o ano de sua morte entre 1734 e 1780, e as análises do corpo sugeriram uma idade na morte entre 30 e 50 anos, com a faixa mais plausível entre 35 e 45 anos. As datas, em ambos os casos, coincidem com o que se sabe sobre o fim de Sidler, observou o estudo.

Além disso, o estudo dos isótopos químicos — variantes de carbono e nitrogênio que refletem proteínas de plantas ou animais consumidas — de uma amostra de osso retirada da coluna vertebral da múmia revelou uma dieta de alta qualidade baseada em grãos e uma grande proporção de carne.

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