O mercado global de suco de laranja deve passar por um reequilíbrio em 2025/26, impulsionado principalmente pela recuperação da produção brasileira e pelo movimento gradual de produtores que consideram novas áreas para o cultivo, fora do tradicional cinturão citrícola de São Paulo. Segundo relatório da RaboResearch, assinado pelo analista Andrés Padilla, o setor pode se beneficiar de preços mais baixos, retomada da demanda e possível recuperação dos estoques globais.
De acordo com a projeção oficial da Fundecitrus, a safra brasileira 2025/26 (julho de 2025 a junho de 2026) deve atingir 314 milhões de caixas, um aumento de 36% em relação à safra anterior, que teve uma produção final de 231 milhões de caixas. O crescimento é atribuído a uma segunda florada forte no final de 2024, chuvas acima da média no último trimestre do ano, e melhor manejo agrícola.
A crescente incidência do greening (HLB) – que supera 70% em algumas regiões de São Paulo – tem levado produtores a considerar a migração para áreas menos afetadas, como Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Paraná. No entanto, esse processo será gradual, devido a desafios como infraestrutura precária, escassez de mão de obra qualificada e necessidade de irrigação.
Minas Gerais se destaca como principal candidato a substituir São Paulo em parte da produção de laranjas. O estado oferece proximidade com plantas processadoras, bom clima, mão de obra disponível e infraestrutura adequada. A expectativa é que alcance 15% da área plantada paulista até a safra 2027/28.
Já Mato Grosso do Sul também desponta como fronteira promissora, com projeção de atingir 15 mil hectares plantados até 2027/28. A empresa Cutrale lidera plantios próximos a Campo Grande, onde pode surgir um novo polo citrícola, possivelmente com construção de uma nova planta industrial.
Com a recuperação da produção brasileira, os estoques globais de suco de laranja tendem a se reconstituir após um período de escassez. O relatório estima que a produção mundial volte a 1,4 milhão de toneladas (equivalente a suco concentrado congelado), ainda que riscos climáticos e perdas por queda de frutos (estimadas em 20%) continuem no radar.
Após queda de 15% na demanda global em 2024/25, devido a preços elevados e baixa disponibilidade, espera-se uma reação de até 10% no consumo em 2025/26. A combinação de preços mais acessíveis e melhora na qualidade do suco pode impulsionar esse movimento, apesar dos desafios estruturais, como o baixo interesse do público jovem e preocupações com o teor de açúcar.
Com a perspectiva de maior oferta, os preços futuros do suco de laranja (FCOJ) começaram a recuar em 2025, após alta acentuada em 2023 e 2024. A média até maio de 2025 foi de US$ 3,94 por libra-peso, quase 30% acima do valor médio do ciclo anterior. No entanto, expectativas de preços mais baixos devem se confirmar ao longo de 2025/26.
Ainda assim, tarifas sobre exportações brasileiras para os EUA (US$ 415/tonelada mais 10% extras) seguem como obstáculo, retardando ajustes de preços no mercado norte-americano.
O mercado global de suco de laranja vive um momento de transição. Com a esperada recuperação da safra brasileira e a expansão gradual para novas regiões, o setor pode entrar em uma fase de maior equilíbrio entre oferta e demanda. Contudo, o ritmo dessa mudança dependerá de fatores climáticos, econômicos e logísticos que ainda impõem desafios aos produtores e à indústria.