A família de Vitória Chaves, jovem que passou por diversos transplantes de coração e que foi exposta na internet no começo de abril deste ano por duas estudantes de medicina, pediu ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) que as autoras do vídeo, a instituição de ensino Inspirali e o Instituto do Coração (Incor), da Universidade de São Paulo (USP), paguem uma indenização por danos morais equivalente a 200 salários mínimos.
Além do valor por dano moral, também é requisitado um pagamento por danos materiais para o custeio do tratamento psicológico por pelo menos seis meses no valor total de R$ 25 mil. Após o período, ainda há a possibilidade de prorrogação do auxílio caso seja necessário. Ao todo, a indenização alcança R$ 632 mil.
O advogado Eduardo Barbosa, defesa de Claúdia Chaves, mãe de Vitória, pede também que Gabrielli Farias de Souza e Thaís Caldeiras Soares Foffano se retratem nas redes sociais e se desculpem pela “forma debochada” que narraram a história da jovem.
No pedido de liminar, a defesa afirma que as estudantes demostraram “um sadismo incompatível com a nobreza do exercício da medicina”. O advogado considera que o hospital foi o “grande potencializador do ocorrido ao não contratar profissionais comprometidos com seus deveres éticos”. A faculdade Inspirali é mencionada no pedido por ser responsável por introduzir as estudantes na unidade de saúde como parte do programa de aprendizagem.
A CNN entrou em contato com Incor e com a Inspirali e não obteve retorno até a publicação desta matéria. A CNN tenta localizar a defesa das estudantes; o espaço está aberto à manifestação.
Duas alunas de medicina publicaram um vídeo no TikTok em que zombam da jovem Vitória Chaves da Silva, de 26 anos, que passou por três transplantes de coração e um de rim.
“Tá achando que tem 7 vidas”, zombam alunas sobre jovem transplantada
A postagem foi feita por Gabrielli Farias de Souza e Thaís Caldeiras Soares Foffano e excluída nesta terça-feira (8). As estudantes estavam no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, local onde Vitória estava internada, quando gravaram o vídeo. A jovem morreu no dia 28 de fevereiro.
Jovem zombada por alunas de medicina tinha doença rara no coração
No post, as estudantes mencionam que uma paciente havia feito três procedimentos para transplantar o coração. Elas indicam que a necessidade de diversos transplantes teria sido culpa da própria jovem. Segundo elas, a transplantada não havia seguido os protocolos das cirurgias corretamente. Em um momento do vídeo, Thaís chega a dizer: “essa menina tá achando que tem sete vidas?”
A postagem viralizou nas redes sociais e, com a exposição, a família de Vitória decidiu denunciar as responsáveis pelo vídeo.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que a Polícia Civil investiga o caso como injúria por meio de inquérito policial instaurado pelo 14° Distrito Policial (Pinheiros).
O MPSP informou que recebeu a denúncia e o caso foi protocolado na promotoria de Justiça de Direitos Humanos da Capital nesta terça-feira (8).
O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), local em que a jovem estava internada e onde as estudantes gravaram o vídeo, se manifestou sobre o ocorrido.
Em nota enviada à CNN, a FMUSP afirmou que Gabrielli Farias de Souza e Thaís Caldeiras Soares Foffano fazem parte de outras instituições e que estavam no hospital em função de um curso de extensão de cerca de um mês.
Além disso, esclareceu que elas não possuem qualquer vínculo acadêmico com a faculdade ou com o InCor. As universidades de origem das estudantes foram notificadas sobre o caso.
“A FMUSP repudia com veemência qualquer forma de desrespeito a pacientes e reafirma o compromisso inegociável com a ética, a dignidade humana e os valores que norteiam a boa prática médica. A instituição reforça ainda a missão de formar profissionais comprometidos com a excelência e com o cuidado humano, valores que são inegociáveis em nossa Instituição”, complementou a nota.
A faculdade ainda divulgou que toma medidas adicionais para reforçar as orientações sobre conduta ética e uso responsável das redes sociais, além da assinatura de um termo de compromisso com os princípios de respeito aos pacientes e aos valores que regem a atuação da instituição.
Quando nasceu, Vitória Chaves da Silva foi diagnosticada com uma grave cardiopatia congênita chamada Anomalia de Ebstein, uma doença rara que afeta a válvula do coração.
A jovem de 26 anos, passou por quatro procedimentos cirúrgicos de transplantes, três de coração e um de rim. O primeiro deles foi na infância, em 2005. O segundo em 2016 e o terceiro em 2024.