Preso na última sexta-feira (25), aos 75 anos, o ex-presidente Fernando Collor acumula uma trajetória política marcada por denúncias de corrupção e controvérsias que envolvem sua família. Com altos e baixos na carreira pública, Collor faz parte de uma família de Alagoas com tradição na política e dona de empresas de comunicação.
Ele foi o primeiro presidente eleito diretamente após a redemocratização, em 1989. Três anos depois, em 1992, foi alvo de um processo de impeachment e afastado do cargo. Collor, inclusive, tentou renunciar o cargo, mas o Congresso considerou que a carta foi entregue de forma tardia e seguiu com o processo.
Entretanto, antes de a família Collor alavancar um de seus integrantes à Presidência do país – e depois testemunhar e contribuir para a sua queda –, outros nomes do clã foram destaque nacional por motivos diversos.
O avô materno do ex-presidente, Lindolfo Collor (1890-1942), foi o primeiro titular do Ministério do Trabalho. Foi convidado ao cargo por Getúlio Vargas e, como titular da pasta, estabeleceu a legislação trabalhista do país.
As normas na época subordinavam os sindicatos ao Ministério – estrutura que décadas depois foi questionada na greve dos metalúrgicos do ABC paulista, lideradas pelo então sindicalista e atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Lindolfo Collor ficou no cargo até 1932, quando deixou o governo e rompeu com Getúlio.
A filha de Lindolfo, Leda Collor (1916-1995), casou-se com Arnon Afonso de Farias Mello (1911-1983) e teve cinco filhos. O ex-presidente nasceu em 12 de agosto de 1949. Na época, o pai já havia sido deputado federal e exerceu mandato de governador de Alagoas nos primeiros anos de vida de Fernando Collor.
Arnon de Mello deixou o governo do estado em 1956 e disputou o Senado, onde veio a exercer três mandatos seguidos. Foi naquela Casa legislativa que protagonizou um dos episódios mais marcantes da política brasileira.
Em 1963, durante sessão no plenário do Senado, Arnon matou seu colega José Kairala, senador suplente, ao tentar disparar contra o também senador e adversário político Silvestre Péricles de Góis Monteiro.
Segundo relatos da época, Silvestre também estaria armado e havia feito ameaças contra Arnon. Ambos foram presos, responderam a inquérito, mas foram absolvidos. Arnon não foi acusado de homicídio.
O ocorrido e diversos outros envolvendo a família Collor é narrado no livro Notícias do Planalto, do jornalista Mario Sergio Conti. A obra relata fatos da carreira de Collor e a relação com a imprensa durante seu governo.
Collor chegou ao cargo de presidente com o mote de “caçador de marajás”. Prometia combater funcionários públicos que não cumpriam horário e o nepotismo no serviço público. Foi eleito em 1989 ao derrotar Lula no segundo turno. Antes, também foi governador do seu estado, em 1986.
Sua gestão é lembrada em especial pelo confisco do dinheiro depositado nas cadernetas de poupança. O episódio completou 35 anos na última sexta-feira (25). A tomada das poupanças dos brasileiros foi determinada como parte de um pacote econômico logo no primeiro dia após a posse de Collor como presidente.
Apesar da insatisfação da população sobre a intervenção da propriedade privada, a queda de Collor veio dois anos depois. Ele foi acusado pelo próprio irmão caçula, Pedro Collor de Mello, de corrupção envolvendo o tesoureiro Paulo César Farias, o PC Farias. As denúncias foram publicadas em uma reportagem da Veja em maio de 1992.
A repercussão levou à instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e depois ao impeachment. Collor tentou contornar o processo para manter seus direitos políticos e apresentou uma carta de renúncia, que foi desconsiderada, e horas depois da apresentação o Senado votou a favor do seu impeachment.
Collor retornou à política em 2002, ao disputar o governo de Alagoas pelo PRTB. Foi derrotada e, no pleito seguinte, foi eleito para uma vaga no Senado. Em 2010, disputou o governo estadual de novo e foi derrotado.
Collor foi reeleito senador em 2014. No ano seguinte, entrou na mira da Operação Lava Jato e passou a ser investigado.
Em 2023, Collor foi condenado a oito anos e dez meses de prisão por receber milhões em propina entre 2010 e 2014. Ele recorreu da decisão. O ministro Alexandre de Moraes rejeitou o novo recurso da defesa de Fernando Collor na última quinta-feira.
Na época da condenação, a maioria dos ministros da Corte entendeu ter ficado comprovado que Collor recebeu R$ 20 milhões de propina entre 2010 e 2014 para facilitar a construção de obras da UTC Engenharia na BR Distribuidora usando sua influência política como senador.
O Supremo entendeu que o dinheiro foi lavado para ocultar a origem ilícita, e a atuação de Collor buscava garantir apoio político dentro da estatal. Os valores teriam passado por lavagem para ocultar sua origem ilícita e a vantagem teria sido dada em troca de apoio político para indicação e manutenção de diretores da então estatal.