“Se eu morrer pelo meu Palmeiras, eu tô feliz”. A frase foi dita diversas vezes por Gabriela Anelli, torcedora ferrenha do time alviverde. Mas o pai da jovem jamais poderia imaginar que isso, de fato, aconteceria. “Eu ficava bravo com ela e dizia: não vai morrer ninguém”, disse Ettore Amarchiano Neto.
Ele veio de Curitiba junto da esposa, da sogra e da nora para acompanhar o Tribunal de Júri, que vai decidir se o torcedor flamenguista Jonathan Messias Santos da Silva é culpado pela morte de Gabriela. A audiência começou às 10h30 desta segunda (19), no Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo.
Jonathan é acusado pelo Ministério Público de ser o responsável por jogar a garrafa de vidro, cujo estilhaçado acertou o pescoço da torcedora, provocando sua morte. Ela chegou a ser socorrida, mas morreu dois dias depois por hemorragia. O crime ao qual responde é homicídio doloso (quando se assume o risco de matar), na modalidade de dolo eventual por motivo fútil, já que foi cometido motivado por ódio pela torcida adversária.
“Minha expectativa é aquilo que todo pai que perde uma filha vítima de um assassinato quer né? Justiça. Que ele seja condenado e cumpra pena pelo ato que destruiu uma família inteira, né? E, até hoje, eu e minha esposa não consegue se recuperar”, comentou emocionado o pai em entrevista exclusiva à CNN, durante intervalo do júri.
Ele e a sogra relembraram a paixão de Gabriela pelo Palmeiras, paixão esta que ela herdou do pai. Desde os 4 anos, Gabriela se acostumou a ir aos estádios e aos 23 continuava com o mesmo brilho no olho. Sempre que tinha jogo do Palmeiras, ela acordava cedo e se arrumava. “Vai abrir o portão do estádio”, brincava o pai que agora não consegue mais frequentar o Allianz Park desde a morte da filha.
“Lá passei muitos momentos felizes e tristes com ela, nas vitórias e derrotas. Mas não consigo entrar mais lá. Cheguei a ir um dia, fiquei dez minutos e saí, porque eu olhava o lugarzinho onde ela sempre gostava de ficar… Minha paixão pelo Palmeiras continua. Não foi o Palmeiras que fez isso, foi um torcedor flamenguista que a gente espera que seja condenado. Só não consigo mais frequentar o Allianz Park”, confessou o Ettore.
Já a avó Joana Anelli dos Santos, com lágrimas nos olhos, disse que sofre de saudades da sua neta mais velha. “Todo dia ela me ligava, me mandava áudio pedindo um bolinho de chuva, se tinha almocinho pra ela (…) Uma menina cheia de vida, tinha resolvido voltar a estudar, fez a matrícula e era apaixonada pelo Palmeiras. Eu acho que isso não é defeito. É só saudade. Nós estamos aqui porque queremos justiça”, relatou a avó.
Pai e avó também fizeram um apelo para que os clubes de futebol ofereçam mais segurança aos torcedores.
“Única coisa que a gente pede é que os clubes de futebol deem mais apoio e segurança aos seus torcedores. O maior bem do clube é o torcedor. Os jogadores um dia vão embora e o torcedor é eterno “. desabafa Ettore.
Gabriella Anelli morreu após ser atingida por uma garrafa de vidro no pescoço, durante uma confusão entre torcidas rivais perto do Allianz Parque, em São Paulo, no dia 8 de julho de 2023. O incidente ocorreu durante uma partida do Campeonato Brasileiro entre Palmeiras e Flamengo.
A vítima foi hospitalizada em estado grave, mas não resistiu aos ferimentos e faleceu dois dias depois. O laudo do Instituto Médico Legal indicou que a morte foi causada por “hemorragia aguda externa traumática”. Outro torcedor também ficou ferido na confusão.
Inicialmente, um suspeito havia sido detido pelo incidente. No entanto, essa prisão foi revogada após a apresentação de vídeos às autoridades que sugeriam que a garrafa de vidro teria sido arremessada por outra pessoa.
Jonathan Messias Santos da Silva foi indiciado pela polícia por homicídio doloso na modalidade de dolo eventual por motivo fútil. O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) aceitou a denúncia do Ministério Público, tornando-o réu.
A juíza Marcela Raia Sant’Anna converteu a prisão temporária de Jonathan para prisão preventiva, entendendo a medida como imprescindível para a garantia da ordem pública, devido à gravidade e natureza hedionda do crime, motivado por ódio à torcida adversária.
Em fevereiro de 2024, a Justiça de São Paulo decidiu que Jonathan Messias Santos da Silva seria julgado por júri popular. A juíza manteve a prisão preventiva, negando o direito de recorrer em liberdade, citando a gravidade do crime e o fato de o réu ter ido para seu estado sem se apresentar às autoridades.
Após investigações, a polícia paulista apontou Jonathan Messias como o responsável pela morte. Ele foi identificado como o principal suspeito através de câmeras de reconhecimento facial instaladas na região do estágio. Jonathan foi preso em sua residência no bairro de Campo Grande, no Rio de Janeiro, em 25 de julho, e posteriormente levado para São Paulo para prestar depoimento.
Jonathan Messias era professor e diretor-adjunto de uma escola municipal no Rio de Janeiro. Ele não possuía antecedentes criminais antes deste caso, e após sua prisão, a prefeitura do Rio de Janeiro o afastou de suas funções.
As investigações policiais, incluindo a análise de vídeos, levaram à conclusão de que Jonathan Messias foi o único a arremessar uma garrafa no momento em que Gabriela foi atingida.