19/04/2025 - 06:30
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Espécie exclusiva do Estado de São Paulo, mico-leão-preto tem risco ‘muito alto de extinção’ e 80% da população estão no Pontal do Paranapanema

Com um risco muito alto de extinção, o mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus) tem uma população estimada entre 1.600 e 1.800 indivíduos e é uma espécie que existe exclusivamente no Estado de São Paulo. Desse total, cerca de 80% estão localizados no Pontal do Paranapanema, com a maior concentração sendo no Parque Estadual do Morro do Diabo, em Teodoro Sampaio (SP).

Além disso, conforme explica a coordenadora do Programa de Conservação do Mico-leão-preto do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), Gabriela Cabral Rezende, a população desses animais está dividida em, aproximadamente, 20 fragmentos florestais, sendo quatro no Oeste Paulista e os demais na região central e sudeste do estado.

Conservação da espécie

A coordenadora do programa de conservação ressalta que, com exceção da população do Morro do Diabo, as outras três concentrações de micos-leões-pretos na região de Presidente Prudente (SP) vivem em fragmentos florestais “muito pequenos”.

“A gente tem uma população que é bastante ameaçada, que corre risco de extinção por conta dessa fragmentação do seu habitat. Então, a única população que a gente fala que é viável no longo prazo, que tem essa capacidade de sobreviver no longo prazo, é essa população do Morro do Diabo, todas as outras correm um risco muito alto de extinção”, analisou Gabriela ao g1.

Pesquisadores buscam estabelecer populações numerosas e autossustentáveis  — Foto: Katie Garrett/Arquivo Pessoal
Pesquisadores buscam estabelecer populações numerosas e autossustentáveis — Foto: Katie Garrett/Arquivo Pessoal

Por outro lado, ela reforça que não é possível “colocar todas as fichas” em uma população apenas, pois podem acontecer adversidades, como uma febre amarela ou um incêndio de grandes proporções, e perder essa população do Morro do Diabo.

“Então, a gente tem que trabalhar para tornar essas populações menores viáveis e também garantir que nada aconteça com a população do Morro do Diabo, para que a gente possa garantir a sobrevivência da espécie”, reforçou a coordenadora.

O Programa de Conservação do Mico-leão-preto do IPÊ atua, principalmente, na região do Pontal do Paranapanema com diversas estratégias para tentar salvar as pequenas populações da espécie e preservar a população que vive no Parque Estadual no Morro do Diabo e uma dessas estratégias, que foi a primeira, é a pesquisa científica.

“A gente realiza pesquisas para entender mais sobre a biologia e ecologia da espécie e também para conseguir entender quais são as necessidades de cada uma das populações e como a gente vai realizar ações para atender a essas necessidades”, afirmou a pesquisadora.

Gabriela Cabral Rezende, coordenadora do Programa de Conservação do Mico-leão-preto — Foto: Leonardo Silva
Gabriela Cabral Rezende, coordenadora do Programa de Conservação do Mico-leão-preto — Foto: Leonardo Silva

Segundo ela, todas as ações de conservação têm que ter um embasamento científico para garantir que tenham o efeito esperado, o efeito que desejam sobre a população.

Outra estratégia desenvolvida pelo IPÊ é o plantio de corredores florestais para tentar estabelecer uma conexão entre as populações de micos-leões-pretos, fazer com que essas pequenas populações tenham uma área maior para viver e consigam ter um fluxo genético entre elas.

“Aquelas populações que poderiam se extinguir num prazo de 50 anos, já não se extinguiriam mais, porque passam a ter um espaço maior tanto para aumentar de tamanho quanto serem geneticamente viáveis, conseguirem reproduzir e crescer dentro desse espaço que vai ter disponível”, explicou Gabriela ao g1.

Pesquisadores buscam estabelecer populações numerosas e autossustentáveis  — Foto: Katie Garrett/Arquivo IPÊ
Pesquisadores buscam estabelecer populações numerosas e autossustentáveis — Foto: Katie Garrett/Arquivo IPÊ

Já no manejo de habitat, os pesquisadores também identificam quais as necessidades dos animais com base na ecologia da espécie. Por exemplo, é detectado que os micos precisam de ocos de árvores, que utilizam para dormir e se proteger. Com base nessa informação, são implantadas caixas de madeira ou outras formas de oferecer esses “dormitórios” de forma artificial para que possam ter um local para se proteger durante o período noturno.

Por fim, é realizado o manejo de populações, que consiste em tirar grupos de micos-leões-pretos de uma determinada área, que consiga ter a capacidade de crescer novamente, e leve para uma outra população, que está precisando dessa suplementação. Essa ação proporciona o aumento da variabilidade genética.

Pesquisadores realizando o manejo das populações, a suplementação de recursos e a educação ambiental — Foto: Divulgação/Arquivo IPÊ
Pesquisadores realizando o manejo das populações, a suplementação de recursos e a educação ambiental — Foto: Divulgação/Arquivo IPÊ

Conscientização e renda

Além das ações ambientais, o programa de conservação também realiza trabalhos com a população da região do Pontal do Paranapanema. O IPÊ realiza educação ambiental em escolas e também com a população adulta da região para que consigam entender qual é a importância do mico-leão-preto.

Outra estratégia desenvolvida é a geração de renda, pois, de acordo com Gabriela, existem demandas por parte do projeto de restauração de habitat, do plantio de corredores florestais, que são “oportunidades de geração de renda”. Entre as atividades estão a criação de viveiros comunitários para produção de mudas e empresas que irão prestar o serviço de plantio desses corredores.

“O IPÊ hoje é o quarto maior empregador da região do Pontal do Paranapanema, justamente por conta dessa crescente demanda dos projetos de restauração de habitat”, ressaltou a pesquisadora.

Por fim, o programa de conservação também trabalha em conjunto com o governo estadual e federal para traçar quais são as estratégias para a elaboração de políticas públicas que tragam benefícios na conservação do mico-leão-preto na região.

Gabriela Cabral Rezende, coordenadora do Programa de Conservação do Mico-leão-preto — Foto: Katie Garrett/Arquivo Pessoal
Gabriela Cabral Rezende, coordenadora do Programa de Conservação do Mico-leão-preto — Foto: Katie Garrett/Arquivo Pessoal

Ameaças

Conforme a coordenadora do Programa de Conservação do Mico-leão-preto pontuou ao g1, três situações são grandes ameaças a esses animais. A primeira delas é a fragmentação da floresta em áreas reduzidas no interior paulista. Para mudar essa situação, é preciso conectar esses fragmentos, o que é realizado por meio dos corredores florestais.

Além disso, a febre amarela também é uma ameaça aos primatas, pois, segundo ela, o Brasil é considerado um país endêmico da doença e, diferente dos humanos, não é possível “sair vacinando” todos os primatas.

“Eles são muito suscetíveis e a gente tem que sempre ficar de olho quando está tendo ondas de febre amarela atingindo essas áreas florestais, porque elas podem atingir diretamente essa espécie de primata”, afirmou Gabriela.

As mudanças climáticas também podem afetar os micos-leões-pretos, pois podem levar a desastres naturais que acabam destruindo locais de floresta importantes para esses animais. Além disso, esses primatas são frugívoros, dependem das frutas que a floresta oferece, e as mudanças climáticas podem mudar o padrão de fenologia, que é o padrão de frutificação dessas árvores.

Com as mudanças nos padrões de frutificação, os micos podem ser afetados, inclusive, no ciclo reprodutivo, porque parte da reprodução desses animais está relacionada com os padrões de frutificação das árvores, o que “pode causar problemas no futuro para essa espécie”.

Mico-leão-preto é espécie exclusiva do Estado de São Paulo e tem risco 'muito alto de extinção' — Foto: Katie Garrett/Arquivo Pessoal
Mico-leão-preto é espécie exclusiva do Estado de São Paulo e tem risco ‘muito alto de extinção’ — Foto: Katie Garrett/Arquivo Pessoal

Dispersor de sementes

O mico-leão-preto é considerado um ótimo dispersor de sementes, pois, segundo Gabriela, se alimenta de uma grande variedade de espécies de frutos e, depois que passam pelo trato digestivo dos micos, essas sementes tendem a ter uma maior capacidade de germinação.

“Eles auxiliam muito nesse processo de recuperação e manutenção das florestas, por serem ótimos dispersores. Um dia de um mico-leão-preto é basicamente acordar de manhã e passar o dia todo andando pela floresta atrás desses alimentos, mas também dispersando as sementes. Então, tudo que eles comem, vão defecando e essas sementes vão sendo espalhadas ali por aquela área que ele percorreu”, analisou a pesquisadora ao g1.

Mico-leão-preto é espécie exclusiva do Estado de São Paulo e tem risco 'muito alto de extinção' — Foto: Gabriela Cabral Rezende
Mico-leão-preto é espécie exclusiva do Estado de São Paulo e tem risco ‘muito alto de extinção’ — Foto: Gabriela Cabral Rezende

Os micos podem percorrer por dia, em média, de dois a dois quilômetros e meio, o que é uma área grande levando-se em conta o tamanho dessa espécie, que são de pequeno porte e pesam cerca de 600 gramas. Além disso, um grupo desses primatas pode utilizar uma área de até 400 hectares de floresta.

“Ele tem essa importância para o ecossistema, de ser um dispersor de sementes, e que ajuda na manutenção dessas florestas” finalizou Gabriela Rezende.

Mico-leão-preto é espécie exclusiva do Estado de São Paulo e tem risco 'muito alto de extinção' — Foto: Gabriela Rezende
Mico-leão-preto é espécie exclusiva do Estado de São Paulo e tem risco ‘muito alto de extinção’ — Foto: Gabriela Rezende

Pesquisadores realizando o manejo das populações, a suplementação de recursos e a educação ambiental — Foto: Arquivo IPÊ
Pesquisadores realizando o manejo das populações, a suplementação de recursos e a educação ambiental — Foto: Arquivo IPÊ

G1 – Presidente Prudente

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