Salvar uma vida pode às vezes custar muito barato. Pelo menos é o que afirma um grupo de pesquisadores do Imperial College London, na Inglaterra, e da Universidade de Lund, na Suécia.
Eles descobriram que dar estatinas junto com ezetimiba, dois medicamentos usados para baixar o colesterol “ruim”, logo após um ataque cardíaco pode reduzir o risco da ocorrência de um novo infarto ou derrame. A prescrição poderia salvar milhares de vidas.
Em seu estudo, publicado recentemente na revista Journal of the American College of Cardiology, os pesquisadores explicam que, atualmente, ”pacientes em todo o mundo não estão recebendo esses medicamentos juntos”.
O resultado dessa monoterapia com estatinas está tendo um desfecho duplamente trágico, segundo os autores. Primeiramente, causando ataques cardíacos e mortes desnecessárias e evitáveis, mas também adicionando custos redundantes nos sistemas de saúde.
Para a primeira autora do artigo, Margrét Leósdóttir, professora da Universidade de Lund, ”As diretrizes atuais recomendam a adição gradual de tratamento hipolipemiante. Mas, muitas vezes, essa intensificação leva muito tempo, é ineficaz e os pacientes são perdidos no acompanhamento”.
Avaliando a combinação oral dos dois remédios para baixar o colesterol
Maior causa de morte no mundo, a doença cardiovascular tem no infarto a sua manifestação mais aguda. Pacientes que sofrem seu primeiro ataque cardíaco têm um risco mais elevado de ter um segundo, pois as artérias coronárias ficam mais inflamadas, favorecendo a formação de coágulos sanguíneos.
Atualmente, as diretrizes globais de cardiologia recomendam a redução rápida dos níveis de LDL-C (“colesterol ruim”) nos pacientes que já sofreram um infarto.
Para isso, sugerem uma abordagem gradual: primeiramente com estatinas e, se o paciente não atingir as metas de LDL-C em algumas semanas, a introdução de um segundo medicamento, geralmente a ezetimiba, que também reduz o colesterol, mas age no intestino.
O novo estudo avaliou o impacto desse escalonamento tardio do tratamento nos resultados, comparando a combinação oral da redução de lipídios no sangue precoce, com a abordagem tardia (estatinas mais ezetimiba) em pacientes com infarto do miocárdio.
A equipe analisou o prognóstico de pacientes após infarto, comparando terapia com ezetimiba precoce (até 12 semanas), tardia (13 semanas a 16 meses) ou ausente. Nesse sentido, recriaram as condições de um ensaio clínico usando os dados de 36 mil pacientes suecos, coletados de 2015 a 2022.
O estudo observacional emulado mostrou que os pacientes tratados precocemente com estatinas e ezetimiba atingiram níveis ideais de colesterol, e tiveram menor risco de eventos cardiovasculares e morte, quando comparados aos de tratamento tardio ou sem terapia.
Por que os dois remédios não são oferecidos juntos aos infartados?
Para Leosdottir, a terapia combinada não é amplamente oferecida globalmente para pacientes pós-infarto, seguindo o “princípio de precaução”. Esse preceito ético e regulatório é aplicado na falta de uma certeza científica sobre os riscos da aplicação conjunta de estatinas e ezetimiba.
Prevalece uma postura conservadora na conduta clínica atual. A ideia é priorizar a cautela antes de adotar intervenções novas, combinadas ou intensivas, mesmo que haja lógica científica e dados promissores. A prática comum visa evitar possíveis efeitos colaterais ou a supermedicação.
No entanto, o novo estudo concluiu que dar os dois remédios logo após o infarto traz benefícios comprovados. Quando isso não é feito, o paciente corre um risco maior de sofrer novos problemas cardíacos. Além disso, a ezetimiba é barata, fácil de encontrar e quase não causa efeitos colaterais.
Para o coautor Kauzik Ray, do Imperial, “Nossas descobertas sugerem que uma simples mudança nas diretrizes de tratamento pode ter um enorme impacto sobre os pacientes”. Como o estudo está mostrando o caminho a seguir, a expectativa é que as vias de atendimento mudem para os pacientes.
O cardiologista preventivo estima que uma terapia complementar com a ezetimiba poderia ser implantada no Reino Unido a um custo de apenas £ 350 (R$ 2,7 mil) anuais por pessoa, um valor bem mais baixo que um tratamento de ataques cardíacos, e com um impacto positivo na vida dos pacientes.
Margret Leosdottir, que também é consultora sênior de cardiologia do Hospital Universitário Skåne em Malmö, na Suécia, disse que o novo tratamento já foi introduzido lá. Sua esperança é que as descobertas mudem as diretrizes globais, a fim de “evitar sofrimento desnecessário e salvar vidas”.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Dois remédios baratos para o colesterol podem evitar 2º ataque cardíaco no site CNN Brasil.
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