Uma propriedade rural em Timburi produzia 23 sacas de café por hectare e agora, sem fertilizantes químicos, produz o dobro. O segredo? O sistema agroflorestal (SAF). “Além do café, nossa agrofloresta também conta com banana, mandioca, goiaba e madeira”, conta Valter Ziantoni, engenheiro florestal que administra a propriedade.
A iniciativa de Ziantoni, que também é fundador da Pretaterra, instituição que incentiva as agroflorestas, foi destaque na seção ECOA do portal UOL nesta semana.
Segundo ele, em toda a região de SAF, a produtividade por hectare aumentou, em média, 60%. “Além disso, os agricultores que estavam sofrendo com longas secas em suas monoculturas, sofrem bem menos hoje”.
Também houve redução na quantidade de insumos químicos e melhora no bem-estar e qualidade de vida dos agricultores. E nascentes de água que haviam secado também foram recuperadas.
Uma pesquisa publicada em 2023 comparou a produtividade dos sistemas agroflorestais (SAFs) com a dos sistemas convencionais de produção (monocultura), analisando 21 artigos científicos. O resultado confirmou que os SAFs são mais produtivos que os convencionais. Entre os artigos estudados, 71,4% mostraram um maior rendimento das agroflorestas em comparação aos sistemas convencionais.
Dentre as razões, está a melhor qualidade do solo das agroflorestas, que possuem maiores quantidades de carbono orgânico, fósforo, potássio e nitrogênio total.
Também se atribuiu esse maior rendimento à existência de um microclima nas áreas agroflorestais com maior umidade de solo, menor temperatura e maior biodiversidade de plantas, o que aumenta o sucesso de polinização, controle biológico de pragas e ervas daninhas.
Embora pesquisas mostrem que agroflorestas são mais produtivas do que os sistemas convencionais, os SAFs ainda não são tão comuns no Brasil. O motivo seria o custo de implantação, que é mais alto para os SAFs. “Os sistemas agroflorestais costumam demandar mais mão de obra, mudas e sementes. Isso faz com que muitos produtores já desistam de implantá-lo já no início”, diz Andrey Borges, assistente agropecuário da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA).
Quando investiu no sistema agroflorestal na propriedade rural da família, em Nova Aliança, no Noroeste do estado de São Paulo – região marcada pela monocultura da cana-de-açúcar -, o biólogo Guilherme Proietti Imura sabia que não seria fácil. “Hoje, colho os frutos da escolha vista no início por muitos como arriscada. Em uma área menor, atualmente, produzo mais alimentos do que antes”.
Imura começou a investir no sistema agroflorestal em 2021, na produção de verduras. Em seguida, introduziu legumes e agora se prepara para plantar frutos na propriedade que, no passado, já teve plantio de café e laranja, que sofria para vingar.
“Com o sistema agroflorestal, consegui melhorar a qualidade do solo da propriedade e, além de produzir mais, tive um ganho gigante em termos de natureza. Aumentou muito a quantidade de pássaros na propriedade”.
Outras razões para os SAFs não serem tão comuns no Brasil são a falta de conhecimento técnico dos produtores rurais sobre agroflorestas, a ausência de políticas públicas de incentivo, a dificuldade de acesso ao crédito adequado, a carência de assistência técnica qualificada e a predominância de culturas convencionais de retornos de curto prazo.
“Diferentemente do que muitos pensam, o retorno financeiro do SAF pode ser mais rápido do que os cultivos tradicionais. Isso porque nos sistemas agroflorestais existem várias culturas integradas que podem ter ciclos de colheita mais rápidos”, afirma Andrey Borges.
Outro benefício da implantação de sistemas agroflorestais é a recuperação de áreas degradadas. Estudo realizado pelo Instituto Escolhas aponta que, no Brasil, a recuperação de 1,02 milhão de hectares de área desmatadas com sistemas agroflorestais poderia produzir 256 milhões de toneladas de alimentos.
“Já desmatamos 18% da nossa Amazônia e outros 38% das florestas da região estão degradados por outros vetores antrópicos (incêndios florestais, exploração seletiva de madeira, mineração, caça ilegal)”, diz Fabricio Ferreira, engenheiro florestal e pesquisador na Embrapa.
“Apostar no fortalecimento dos povos e comunidades tradicionais e da agricultura familiar através da promoção de agroflorestas para restaurar nossas áreas degradadas com geração de emprego e renda, captura de carbono, retomada dos serviços ecossistêmicos é uma forma acertada de mostrar para o mundo uma nova bioeconomia sustentável”, completa o pesquisador.