Enquanto muitas nações estão se esforçando para fechar acordos de tarifas com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a China está se levantando contra ele, esperando transformar a “crise em oportunidade”.
O Ministério do Comércio da China na terça-feira (8) de manhã, horário local, prometeu “tomar resolutamente contramedidas para salvaguardar seus próprios direitos e interesses” se os EUA implementarem as tarifas ameaçadas.
“A ameaça dos EUA de aumentar as tarifas sobre a China é um erro atrás do outro que mais uma vez expõe a natureza chantagista dos EUA. A China nunca aceitará isso. Se os EUA insistirem em seu próprio caminho, a China lutará até o fim”, disse a declaração.
Dentro de 48 horas após Trump anunciar tarifas na quarta-feira (2), a segunda maior economia do mundo rapidamente retaliou com suas próprias medidas punitivas sobre produtos e empresas dos EUA.
E agora está enviando uma mensagem clara: a China está bem preparada para enfrentar uma guerra comercial – e sair mais forte do outro lado.
A postura foi transmitida pelo governo chinês ao longo do final de semana e reproduzida ainda nesta terça-feira.
“As tarifas dos EUA terão impacto [na China], mas ‘o céu não cairá’”, disse um comentário no jornal porta-voz do Partido Comunista Chinês, o Diário do Povo, no domingo (6).
“Desde que os EUA iniciaram a [primeira] guerra comercial em 2017 – não importa como os EUA lutem ou pressionem – continuamos a nos desenvolver e progredir, demonstrando resiliência – ‘quanto mais pressão recebemos, mais fortes nos tornamos’”, dizia o comentário, que também estava na primeira página da edição de segunda-feira (7) do jornal.
Trump já expressou seu descontentamento com a resposta de Pequim, ameaçando na segunda-feira intensificar significativamente a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo ao aplicar tarifas adicionais de 50% sobre as importações chinesas se o país asiático não remover suas tarifas retaliatórias até terça-feira.
O presidente norte-americano também disse que as “reuniões solicitadas” da China com os EUA seriam canceladas.
Trump revelou na quarta-feira uma tarifa adicional de 34% sobre todos os produtos chineses importados para os EUA, elevando os impostos sobre todas as importações chinesas para os EUA para bem mais de 54% quando as tarifas existentes entrarem em vigor.
Pequim reagiu na sexta-feira (4) com suas próprias tarifas básicas de 34% sobre todas as importações americanas, bem como outras medidas, incluindo controles de exportação de minerais de terras raras e restrições comerciais a empresas específicas dos EUA.
Pequim há muito tempo critica as tarifas dos EUA como “intimidação unilateral”. Sua última retórica pode ser propaganda pronta para acalmar potenciais nervosismos em casa – e projetar confiança para o resto do mundo.
Mas também fala sobre o que poderia ser o cálculo estratégico do líder chinês Xi Jinping e seus quadros em Pequim: que Trump não está apenas usando as tarifas como uma tática de negociação – e a interrupção épica do comércio global tem o potencial de prejudicar mais os EUA do que a China.
“Muitos colegas [da República Popular da China] argumentaram que os EUA estão cometendo um erro que prejudicará sua própria posição global”, escreveu Ryan Hass, pesquisador sênior do think tank Brookings Institution, sediado em Washington, na plataforma de mídia social X no domingo, após reuniões com autoridades governamentais, acadêmicos e líderes empresariais durante uma visita à China.
“Há um debate sobre se o mundo está entrando em um período de blocos ou uma transição para uma era de globalização sem os EUA. Pequim parece preferir o último cenário”, disse ele, acrescentando que “os líderes da China não tolerarão ser vistos como passivos em resposta aos EUA”.
Como as tarifas de Trump têm como alvo amigos e inimigos, as autoridades chinesas já tentaram, nas últimas semanas, projetar a China como uma defensora e protetora alternativa de uma economia globalizada que aumentou a prosperidade de países ao redor do mundo, bem como um parceiro econômico estável e um paraíso para negócios.
“Como a segunda maior economia do mundo e o segundo maior mercado consumidor, a China continuará a abrir cada vez mais suas portas, independentemente das mudanças no cenário internacional”, disse o Ministério das Relações Exteriores da China em um comunicado no sábado (5).
No domingo, Ling Ji, vice-ministro do Ministério do Comércio da China, recebeu representantes de 20 empresas financiadas pelos EUA, incluindo Tesla e GE HealthCare, de acordo com uma declaração do ministério.
Ling elogiou a China como um lugar “ideal, seguro e promissor” para investimentos, ao mesmo tempo em que apelou às empresas americanas para que “sejam vozes racionais” e “tomem medidas práticas” para manter a estabilidade da produção global e das cadeias de fornecimento.