Pergunte ao seu cachorro se ele quer ir passear e você poderá ver uma inclinação de cabeça curiosa como resposta. Esse comportamento canino, muitas vezes considerado fofo, é familiar aos tutores, mas ninguém sabe ao certo o que significa.
A verdade é que esse gesto ainda guarda mistérios, mas algumas teorias e pesquisas recentes podem ajudar a desvendar o que se passa na mente do seu pet quando ele vira a cabeça para o lado enquanto você fala.
Cientistas da Universidade Eötvös Loránd, na Hungria, publicaram um estudo que investiga as possíveis razões por trás do gesto tão característico dos cães de inclinar a cabeça quando ouvem seus tutores falarem.
A pesquisa, liderada por Andrea Sommese, sugere que esse comportamento pode estar relacionado ao processamento de palavras familiares.
Assim como os humanos inclinam a cabeça ao tentar recordar algo, os cachorros podem fazer o mesmo ao associar comandos ou nomes de objetos a memórias específicas.
O estudo focou em cães considerados “superdotados”, capazes de aprender e lembrar os nomes de diversos brinquedos.
Comparados a cães comuns, esses animais inclinavam a cabeça com muito mais frequência (43% das vezes) ao ouvir o nome de um brinquedo conhecido, enquanto os outros cães faziam o mesmo apenas 2% das vezes.
Além disso, eles tendiam a inclinar a cabeça sempre para o mesmo lado, independentemente da posição do dono, indicando que o gesto estava mais ligado ao processamento mental do que à localização do som.
A lateralização do cérebro pode ser uma explicação para esse comportamento.
Da mesma forma que os seres humanos processam a linguagem predominantemente no hemisfério esquerdo, os cães podem usar regiões específicas do cérebro para interpretar palavras familiares.
Além disso, a inclinação da cabeça pode ter evoluído como um sinal social, demonstrando atenção e engajamento.
Isso explicaria por que achamos esse gesto tão fofo — ele não só reflete um processo cognitivo, mas também reforça a conexão emocional entre pets e tutores.
A inclinação da cabeça não é exclusiva dos cachorros — diversas espécies apresentam esse comportamento como forma de aprimorar a percepção sonora.
Humanos, pássaros e outros animais também inclinam a cabeça para ajustar o ângulo das orelhas, permitindo que o som chegue a uma delas antes da outra.
Essa pequena diferença de tempo ajuda a localizar a origem do som com maior precisão, uma adaptação útil tanto para a comunicação quanto para a caça.
Um exemplo notável são as corujas-das-torres, que combinam a inclinação da cabeça com uma incrível capacidade de girar o pescoço em até 270 graus.
Como seus olhos são fixos, esse movimento ajuda a direcionar o olhar e ajustar a posição das orelhas assimétricas, essenciais para detectar sons de presas escondidas.
Estudos anatômicos mostram que essa habilidade é fundamental para sua sobrevivência, comprovando que o gesto vai além da curiosidade e está ligado a estratégias sensoriais eficientes.