O que Warren Buffett fará com a montanha de bilhões sob sua gestão diante da intensa reconfiguração da economia global?
Essa é a pergunta que ecoa entre os brasileiros que não hesitaram em cruzar o Hemisfério para estar em Omaha, no interior dos Estados Unidos, e ouvir as palavras do legendário investidor na reunião anual da Berkshire Hathaway, neste sábado (3).
Esses brasileiros não vieram apenas por curiosidade. Eles fazem parte de um grupo organizado, com mais de 50 participantes, que pagou para fazer uma imersão no universo de Buffett.
A jornada incluiu um curso na prestigiada Columbia Business School, focado no “value investing” — o método que tornou Buffett bilionário.
O ápice dessa experiência, porém, é estar na arena, a metros de quem inspira o grupo, para a aguardada reunião com os sócios.
A dúvida sobre o futuro se traduz em perguntas práticas. Francisco Schmidt, conselheiro de empresas de Porto Alegre, resume a expectativa de muitos.
“Ele já avisou que sobre política não fala. Mas como tem se saído muito bem em todas as crises passadas, espero ver o que ele vai fazer com o caixa”, disse.
A preocupação com o caixa tem motivo. Em fevereiro, a Berkshire Hathaway divulgou que possuía impressionantes US$ 330 bilhões em dinheiro ou títulos de curto prazo do governo americano — um salto de 101% em apenas um ano.
“Um pouco antes dessa turbulência, ele acumulou muito caixa” reforça Schmidt. “Ele está com os dólares, e sabe como investir. Então, quero ver se ele dá alguma luz desses novos investimentos”, completa o consultor gaúcho.
As motivações são diversas, refletindo diferentes idades, profissões e estágios de vida e do patrimônio, mas convergem para um ponto central: a busca por sabedoria e perspectivas de longo prazo em um mercado cada vez mais volátil e complexo.
“Quero entender como ele está enxergando a economia dos EUA e do mundo. E o que ele vai fazer com tanto caixa”, diz Maria Pia Barros Tigre, advogada do Rio de Janeiro.
Mas, para além das finanças, Maria Pia carrega uma pergunta mais íntima, ligada à perda do parceiro de décadas de Buffett: Charles Munger, falecido em 2023.
“Tenho muita curiosidade no que ele mais sente falta de Charles Munger”, confessa. “O que ele sente falta, e o que o Munger diria para ele num momento como o atual”.
Mais do que cifras ou táticas de curto prazo, o que une os brasileiros em Omaha é a admiração pela filosofia de Buffett e a busca por ensinamentos aplicáveis na prática.
Cássio Nardon, consultor de Caldas Novas, Goiás, lembra que as histórias de sucesso têm outro lado, e gostaria de aprender com isso.
“Queria entender mais sobre os erros. Os acertos são mais fáceis de achar, o que ele poderia dar de conselho para alguém ir devagar e sempre”, disse.
Chave do sucesso de Buffett, a paciência e a visão de longo prazo inspiram Davi Ramos, empresário de Brasília. “Se todo investidor tivesse visão de longo prazo, teríamos melhores investidores, principalmente no Brasil”, afirma.
A oportunidade de interagir é real. Durante a reunião, microfones são abertos para perguntas dos presentes — os “sócios” de Buffett. E a esperança de ser sorteado anima.
Pela segunda vez em Omaha, a economista Camila Winck, do Rio de Janeiro, já tem sua pergunta na ponta da língua.