Um novo estudo pode ter descoberto exatamente o que torna os gatos laranjas especiais — embora talvez não seja pelo motivo que você imagina.
Gatinhos ruivos são conhecidos entre os tutores por serem particularmente amigáveis e cheios de personalidade. Para os geneticistas, no entanto, a singularidade desses animais domésticos vem da maneira incomum como eles adquirem sua cor.
Agora, cientistas dizem ter desvendado um mistério de longa data ao identificar a mutação específica no DNA responsável por esse tom dourado — uma variante que não foi encontrada em nenhum outro animal.
A variante genética foi descrita pela primeira vez em um artigo publicado em 15 de maio na revista Current Biology.
“Essa é um tipo realmente incomum de mutação”, disse o autor principal do estudo, Christopher Kaelin, cientista sênior em genética da Universidade de Stanford, na Califórnia.
A maioria dos gatos totalmente laranjas são machos, o que levou cientistas, décadas atrás, a concluir que o código genético para a cor laranja está localizado no cromossomo X.
Como em outros mamíferos, fêmeas possuem dois cromossomos X, enquanto os machos têm um X e um Y. Qualquer gato macho que carregue o gene da cor laranja em seu único cromossomo X será inteiramente desta cor. Já uma fêmea precisaria herdar o gene em ambos os X (um de cada progenitor) para ser completamente alaranjada, o que é menos comum.
Em vez disso, a maioria das gatas com pelagem laranja apresenta padrões manchados — calico ou casca de tartaruga — que podem incluir também preto e branco.
Mas onde exatamente a mutação está localizada no cromossomo X, e como ela gera a coloração laranja, era um enigma até agora. Normalmente, alterações que levam a pelos amarelos ou alaranjados em animais (e cabelos ruivos em humanos) ocorrem dentro de genes que controlam a pigmentação. E esses genes não estão no cromossomo X.
“Isso sugeriu para nós que, ao identificar a causa molecular, poderíamos aprender algo novo e interessante — o que de fato aconteceu”, disse Greg Barsh, coautor do estudo e professor emérito de genética e pediatria em Stanford.
As descobertas não apenas esclareceram a origem peculiar da coloração carismática de alguns gatos, mas também revelaram novos insights sobre um gene já conhecido.
O primeiro passo foi identificar mutações genéticas exclusivas de gatos laranjas que poderiam causar sua coloração. Durante dez anos, Kaelin frequentou exposições de gatos, pedindo a tutores de felinos ruivos permissão para coletar amostras de DNA com um cotonete bucal. (Ele também tem interesse em padrões semelhantes aos de felinos selvagens, como leopardos e jaguatiricas, comuns em raças populares como Bengal e Toyger.)
Comparando sua coleção de DNA com genomas felinos sequenciados nos últimos cinco a dez anos, ele e sua equipe de pesquisa encontraram 51 variações genéticas no cromossomo X compartilhadas por gatos machos laranjas. Mas 48 delas também estavam presentes em animais não laranjas, restando apenas três mutações como candidatas prováveis.
Uma delas era uma pequena exclusão de 5.076 pares de bases que removeu cerca de 0,005% do cromossomo X em uma região que aparentemente não codificava nenhuma proteína específica. A exclusão não estava dentro de um gene, onde mutações costumam ocorrer.
No entanto, a mutação estava entre dois locais associados a um gene próximo chamado Arhgap36, que regula uma importante via de sinalização hormonal usada por praticamente todas as células e tecidos de mamíferos. Não havia nenhuma ligação conhecida com pigmentação. O gene nem sequer é ativado em células que produzem pigmento.
Para entender como o gene afeta a cor, Kaelin estudou sua ação em tecidos vivos coletados em clínicas de castração, que de outra forma seriam descartados.
Os experimentos mostraram que, de alguma forma, a exclusão ativa o Arhgap36 em células de pigmento, onde bloqueia a produção de substância preta, fazendo com que as células produzam a cor laranja.
Essa variante não foi encontrada em nenhum outro animal, incluindo os gatos selvagens que deram origem aos gatos domésticos.
“É uma exceção genética que foi notada há mais de cem anos”, disse Kaelin em um comunicado da Universidade de Stanford. “É justamente esse quebra-cabeça genético comparativo que motivou nosso interesse pelo gene ligado ao sexo que causa a coloração laranja.”
Essa singularidade sugere que a mutação provavelmente ocorreu uma única vez durante a domesticação e depois foi selecionada por cruzamentos, explicou Kaelin. “Vemos a mesma alteração em todos os gatos laranjas que analisamos em uma ampla área geográfica, então foi uma modificação única”, ele afirmou.