O Brasil, detentor da maior biodiversidade do planeta, com mais de 116.000 espécies animais e 46.000 espécies vegetais, é um dos países com o maior potencial para a bioprospecção. Com a presença de seis biomas terrestres, como a Floresta Amazônica, o Cerrado e o Pantanal, além dos vastos ecossistemas marinhos, o país é um verdadeiro celeiro para a descoberta de novos recursos naturais. A bioprospecção, técnica que visa explorar essa biodiversidade em busca de organismos vivos com potencial para aplicação comercial, tem se revelado essencial para o avanço da produção sustentável de alimentos no Brasil e no mundo.
A bioprospecção envolve a busca por organismos vivos, como plantas, animais, microrganismos, moléculas e genes, que possam ser utilizados em diversos setores, como o farmacêutico, cosmético, alimentar e, principalmente, agrícola. No setor agrícola, essa técnica vem sendo aplicada para o desenvolvimento de soluções baseadas na natureza (NBSs), que visam reduzir o uso de pesticidas e herbicidas químicos, contribuindo para uma produção mais sustentável.
Embora a bioprospecção seja uma das práticas mais antigas da história humana, com registros de sua aplicação por populações indígenas há cerca de 15.000 anos, seu potencial ainda está longe de ser totalmente explorado. O Brasil, com sua rica biodiversidade, é um dos países com maior capacidade de exploração dessa técnica. Em 2010, durante a Convenção sobre Diversidade Biológica, foi criado o Protocolo de Nagóia, um acordo internacional que estabelece diretrizes para o uso de recursos genéticos e sua aplicação comercial, com a garantia de royalties e transferência de tecnologias entre os países envolvidos. O Brasil ratificou o Protocolo em 2021, e o acordo passou a ter validade em 2023.
A bioprospecção tem desempenhado um papel fundamental na agricultura, especialmente no desenvolvimento de novos biofertilizantes, bioestimulantes e agentes de biocontrole. O uso de microrganismos nativos de biomas brasileiros pode resultar em soluções mais eficazes e sustentáveis para a agricultura. De acordo com Rafael de Souza, CEO da Symbiomics, “os microrganismos nativos possuem enorme potencial para promover benefícios não apenas à agricultura, mas a toda a cadeia produtiva”.
Um exemplo notável dessa aplicação é o uso da bactéria Bradyrhizobium para a fixação biológica de nitrogênio (FBN). Esse inoculante, utilizado principalmente na soja, gera uma economia anual superior a US$ 2 bilhões para o Brasil, segundo a Embrapa. Esse tipo de inovação, resultante da bioprospecção, não só melhora a produtividade agrícola, como também reduz a dependência de insumos químicos, promovendo práticas mais ecológicas.
A Symbiomics, uma biotech brasileira, é um exemplo claro de como a bioprospecção pode ser transformada em negócio. A empresa explora uma vasta diversidade microbiana para identificar microrganismos com grande potencial para aplicação agrícola. Ao utilizar tecnologias como sequenciamento genético, machine learning e edição genética, a Symbiomics consegue desenvolver soluções mais rápidas, eficazes e econômicas para melhorar a produtividade vegetal e promover uma agricultura mais sustentável.
A bioprospecção, ao explorar as riquezas naturais do Brasil, representa um caminho promissor para uma agricultura mais sustentável, menos dependente de químicos e mais benéfica ao meio ambiente e à saúde humana. A combinação de tecnologia e biodiversidade pode ser a chave para a evolução de um setor agrícola mais inovador e resiliente.