O reitor da Universidade Harvard, Alan Garber, decidiu não ceder às exigências do governo para mudar suas políticas, declarando que a instituição não “abriria mão de sua independência ou de seus direitos constitucionais”.
Uma universidade mais acostumada a produzir presidentes do que a desafiá-los desencadeou um dos confrontos mais importantes até o momento entre o presidente Donald Trump e uma instituição de elite.
E quando Trump retrata os acadêmicos de Cambridge, Massachusetts, como ativistas de extrema-esquerda que promovem políticas “woke” sobre raça e gênero, ele não está trabalhando “no vácuo”. Milhões de americanos concordam com ele.
Pesquisas evidenciam uma crescente desconfiança em relação às instituições de ensino superior, especialmente entre os republicanos.
Mas o ataque do presidente às principais universidades do país vai além de uma questão que entusiasmará sua base política.
A pressão do governo sobre as principais universidades faz parte de um esforço mais amplo para desafiar os centros do que considera poder liberal, que também inclui os tribunais, a burocracia federal e a mídia.
Após reformular o Partido Republicano e a Suprema Corte, o republicano espera estender sua ideologia populista ao ensino superior para desafiar sistemas de crenças que conflitam com seu credo no MAGA e inclinar o país radicalmente para a direita.
Trump não está somente atacando acadêmicos. Sua repressão à imigração gerou uma cultura de medo nos campi: alguns estudantes foram retirados das ruas por agentes de fronteira, enquanto centenas de outros tiveram seus vistos cancelados sob a alegação de que suas opiniões são prejudiciais aos interesses da política externa americana.
Esse sentimento de repressão ameaça sufocar a atmosfera de debate aberto que anima uma universidade saudável.
E as ameaças do republicano, de suspender o financiamento para as principais instituições de ensino, colocam em risco a pesquisa científica e médica de ponta do país sobre doenças fatais como câncer e Alzheimer.
Acadêmicos são frequentemente acusados de viver em uma bolha de isolamento.
Isso ficou claro em dezembro de 2023, quando a deputada de Nova York Elise Stefanik criticou os reitores das principais universidades por protestos nos campi que, segundo os críticos, degeneraram em antissemitismo após os ataques do Hamas a Israel.
As respostas matizadas dos acadêmicos poderiam ter sido aceitas em um seminário no campus, mas se transformaram em uma catástrofe política.
A indignação moral de Stefanik, formada em Harvard, ajudou a levar à renúncia da reitora da universidade, Claudine Gay.
As atuações da parlamentar nova-iorquina também a tornaram uma das estrelas em ascensão no movimento MAGA e na liderança republicana na Câmara.
Stefanik liderou novamente o ataque contra Harvard na terça-feira (15), depois que o governo congelou US$ 2,2 bilhões em verbas federais quando a universidade recusou suas exigências.
“Se você observar o corpo docente, o corpo docente titular de todas essas instituições, verá que eles estão completamente desvinculados dos valores americanos. Noventa e sete por cento do corpo docente se autodenomina democrata, progressista. Eles estão apoiando essas ideias radicais de extrema-esquerda e, na verdade, ensinando antiamericanismo”, disse Stefanik à Fox News.
O governo usa as acusações de antissemitismo para alimentar tanto seu ataque mais amplo às universidades quanto sua campanha de deportação em massa.
A Casa Branca exigiu que Harvard contratasse uma empresa externa para auditar diversos programas, escolas e departamentos da universidade que, segundo ela, estavam contaminados por históricos flagrantes de antissemitismo ou outros preconceitos.