O aumento da produção de soja no Rio Grande do Sul tem ampliado a oferta de alimento para o rebanho durante o inverno, favorecendo a introdução de forrageiras no sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) durante o período de entressafra. No entanto, a adoção desse modelo produtivo sem embasamento técnico pode gerar mais prejuízos do que benefícios, desmotivando muitos produtores a investir na estratégia.
O alerta é de Armindo Barth Neto, gerente técnico do Serviço de Inteligência em Agronegócios (SIA), que ressalta o potencial da ILP diante da nova realidade no campo. Segundo ele, embora a oferta forrageira tenha melhorado em comparação a anos anteriores — com o inverno se consolidando como o principal período de produção de pasto e o verão se tornando o fator limitante —, a utilização das pastagens de inverno ainda é subaproveitada. “Isso acaba restringindo o verdadeiro potencial da integração”, pontua.
Barth Neto destaca que, com a chegada do outono, as discussões sobre o uso eficiente das pastagens de inverno voltam à tona, muitas vezes tratadas com simplicidade excessiva. “Em diversas propriedades, a integração é vista como uma alternativa barata para ocupar o inverno. Lança-se a semente, ou se utiliza o azevém por ressemeadura natural, aplica-se ureia — geralmente até dois sacos por hectare — e se colocam um ou dois terneiros por hectare. Com um período de uso curto, de 90 dias, e ganhos médios de 800 gramas por animal por dia, a produtividade gira em torno de 145 quilos de peso vivo por hectare. São resultados positivos, mas aquém do potencial que o sistema pode atingir”, analisa o especialista.
Além da baixa taxa de lotação e do tempo limitado de uso das pastagens, o técnico da SIA chama atenção para outro problema: o período ocioso entre o término da utilização da área e o plantio da soja. “Muitas áreas são liberadas em setembro, mas o plantio da soja costuma ocorrer apenas em novembro. Isso significa entre 30 e 45 dias em que a terra fica improdutiva — sem gado e sem lavoura — justamente quando o campo nativo ou as pastagens de verão ainda não estão em condições ideais para receber os animais”, destaca.
Para reverter esse cenário e tornar a ILP uma alternativa eficiente e economicamente vantajosa, Barth Neto defende a adoção de práticas técnicas bem estruturadas. “A ILP eficiente começa com a implantação adequada da pastagem: sementes de qualidade, semeadura no período correto, adubação bem planejada e uso controlado ao longo de todo o ciclo. Em sistemas bem manejados, é possível manter quatro a cinco terneiros por hectare. Com suplementação energética de baixo consumo, os ganhos diários ultrapassam um quilo por animal. Ao estender o uso da pastagem para 150 dias, por exemplo, é possível alcançar mais de 500 quilos de peso vivo por hectare — o que transforma completamente a produtividade e os resultados da propriedade”, afirma.
Por fim, o gerente técnico reforça que o planejamento das áreas de inverno não deve ser feito de forma isolada. É essencial analisar o sistema produtivo como um todo, principalmente em modelos que atravessam estações — como os de recria, terminação, ciclo completo ou até mesmo sistemas de cria mais intensiva. “A transição do final do inverno para o início da primavera precisa estar planejada, com alternativas forrageiras imediatas, como pastagens perenes de verão, forrageiras anuais como sudão, milheto ou sorgo, ou ainda o tradicional campo nativo, desde que bem manejado e melhorado”, conclui.