13/04/2025 - 12:42
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Zerar desmatamento é principal medida contra emissões, apontam relatórios

Zerar o desmatamento – especialmente na Amazônia – tem se consolidado como medida essencial para diminuir as emissões de gases de efeito estufa no Brasil, de acordo com os relatórios produzidos na última década pelo Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), uma iniciativa do Observatório do Clima.

Com o auxílio da ferramenta Google Pinpoint, a CNN analisou os relatórios produzidos nos últimos dez anos pelas edições do SEEG e as mudanças nas recomendações da instituição direcionadas ao governo brasileiro. Por meio do assistente de inteligência artificial integrado à plataforma, o Gemini, foi possível listar as principais medidas propostas em cada ano.

Ao verificar os documentos produzidos de 2015 a 2024, é possível perceber como a proposta de desmatamento zero ganhou cada vez mais importância para que o país consiga frear suas emissões e cumprir com as metas do Acordo de Paris dentro do prazo.

O SEEG foi criado no início dos anos 2010 para monitorar e divulgar dados confiáveis sobre as emissões de carbono brasileiras. Desde o início da série histórica, em 1990, a mudança de uso da terra (setor em que se enquadra o desmatamento) representa a maior porcentagem de emissões de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil em todos os anos.

“O perfil de emissões brasileiro é muito dominado pela emissão de desmatamento. A primeira coisa que o Brasil deve fazer para se enquadrar numa trajetória de baixo carbono é controlar o desmatamento”, observou à CNN, o coordenador do SEEG, David Tsai.

Por conta disso, o cenário brasileiro para reduzir emissões é diferente daquele enfrentado pela maior parte dos outros Estados, que estão focados em fazer a transição energética para fontes renováveis – cenário este que o Brasil já vive.

“No mundo em geral, o grande vilão do aquecimento global é a queima de combustíveis fósseis, que representa mais de 70% [das emissões] no plano internacional. Também temos problema com queima de combustíveis no setor de energia [no Brasil], principalmente por causa da nossa matriz rodoviária. Mas a grande parte de nossas emissões vem do desmatamento e, pelo volume, do desmatamento na floresta amazônica”, afirmou a ex-presidente do Ibama e atual coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, Suely Araújo, em entrevista à CNN.

O Brasil tem em vigor duas metas: terminar 2025 com uma emissão de, no máximo, 1.320 milhões de toneladas de dióxido de carbono (MtCO2); e 2030 emitindo, no máximo, 1.200 MtCO2 – valor que representa uma redução de 53% em relação ao ano-base de 2005.

Com uma porcentagem grande das emissões de GEE vinculadas ao desmatamento, pode parecer que o caminho para que o Brasil atinja suas metas climáticas é mais simples que para os outros países. No entanto, segundo Tsai, essa “vantagem” é ilusória.

“Em termos de velocidade de redução de emissões, o Brasil pode entregar muito mais do que os outros países”, disse o coordenador do SEEG. “Mas, se a gente excluir o desmatamento, a média de emissões brasileira, por habitante, se torna igual à média de emissões mundial. Com o desmatamento, o brasileiro médio emite muito mais do que um cidadão médio do mundo. Então, na verdade, a gente está começando atrás.”

Ou seja, zerar o desmatamento pode ser o ponto de partida, mas para que o país se torne carbono neutro – ou seja, remova a mesma quantidade de GEE que é emitida – é preciso atacar as emissões em todos os setores (agropecuária, energia, resíduos, etc.).

Entre os avanços observados nos relatórios da última década, estão o aumento da organização, da transparência e da institucionalização do combate às mudanças climáticas. Se os primeiros documentos incluíam cobranças pela divulgação periódica de dados sobre desmatamento, hoje o país é referência mundial no monitoramento das mudanças de uso da terra.

“Houve uma inserção da política climática nos diversos setores do governo”, aponta Tsai. “Claro que ainda tem muito o que aprimorar, mas a gente vê um movimento crescente a cada ano, governos estaduais e municipais se apropriando da agenda.”

Nos relatórios, no entanto, muitas recomendações se mantiveram constantes: a descarbonização da economia em todos os setores, a recuperação de áreas de florestas e o fim do desmatamento, e a aposta em energia renovável, entre outras. A repetição dessas medidas indica que o país não conseguiu atingir as metas esperadas nessas áreas, mesmo após dez anos.

Se os especialistas no assunto estão há dez anos falando a mesma coisa, isso quer dizer que o governo não está agindo no ritmo que deveria?

“Na prática, a gente não tem visto resultados concretos em termos de emissões. Após a publicação da Política Nacional de Mudança do Clima [em 2009], a expectativa era que a gente tivesse o Brasil sendo colocado numa trajetória de descarbonização. E o que a gente vê foi o contrário, foi uma trajetória de aumento das emissões. Por isso que essas recomendações se repetem”, avalia Tsai.

Suely Araújo também observa que, em meio a essa última década, os quatro anos de governo Bolsonaro acabaram marcados por um desmonte dos órgãos ambientais, o que fez com que o país tivesse que correr atrás do prejuízo.

“Não dá para falar sobre os últimos 10 anos sem essa interrupção. No governo Bolsonaro, o desmatamento da Amazônia voltou a crescer. Foram paralisados o Fundo Amazônia, o Fundo Clima”, ressalta Araújo.

E se o Brasil não parece estar agindo com rapidez para combater as mudanças climáticas, este também é o cenário na maior parte dos outros países.

“Na média global, a gente não está adotando as medidas de maneira rápida suficiente”, acrescentou o coordenador do SEEG. “A maioria dos países, ou pelo menos dos países mais emissores, também não estão entregando uma redução de emissões compatível com o Acordo de Paris.”

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