Ao menos oito pessoas com cólera no Sudão do Sul — cinco delas crianças — morreram durante uma caminhada de três horas em busca de tratamento médico depois que cortes na ajuda americana forçaram o fechamento de serviços de saúde locais, informou a organização beneficente britânica Save the Children nesta quarta-feira (9).
As mortes, que ocorreram no mês passado, estão entre as primeiras a serem diretamente atribuídas aos cortes impostos pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, após assumir o cargo em 20 de janeiro.
O governo americano afirmou que congelou a ajuda para verificar se os subsídios estavam alinhados com a agenda “América Primeiro” de Trump.
Especialistas alertaram que os cortes — incluindo o cancelamento de mais de 90% dos contratos da USAID — podem custar milhões de vidas nos próximos anos devido à desnutrição, AIDS, tuberculose, malária e outras doenças.
O Departamento de Estado dos EUA não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
A Save the Children apoiou 27 unidades de saúde no estado de Jonglei, no leste do Sudão do Sul, até o início deste ano, quando os cortes americanos forçaram sete a fechar completamente e 20 parcialmente, informou a organização em um comunicado.
Os serviços de transporte financiados por Washington para levar pessoas ao hospital na principal cidade local também foram interrompidos por falta de verbas, o que obrigou as oito pessoas a caminhar sob um calor de quase 40 °C para buscar tratamento na unidade de saúde mais próxima, relatou a organização.
Três das crianças tinham menos de 5 anos, disse Christopher Nyamandi, diretor da Save the Children no Sudão do Sul.
Além dos cortes dos EUA, reduções mais graduais por parte de outros doadores prejudicam a resposta humanitária no país.
A organização espera investir US$ 30 milhões no país em 2025, abaixo dos US$ 50 milhões do ano passado, pontuou Nyamandi.
Mais de um terço dos cerca de 12 milhões de habitantes do Sudão do Sul foram deslocados por conflitos ou desastres naturais, e as Nações Unidas afirmam que o país pode estar à beira de uma nova guerra civil após o início dos combates em fevereiro no nordeste do país.
Um surto de cólera foi declarado em outubro passado. Mais de 22 mil casos foram registrados até o mês passado, causando centenas de mortes, segundo a Organização Mundial da Saúde.