23/05/2025 - 17:27
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Infraestrutura defasada dos portos brasileiros ameaça exportações de café e gera prejuízos bilionários

A infraestrutura portuária brasileira tem enfrentado uma crescente deterioração, colocando em risco cadeias produtivas estratégicas como a do café. Segundo o CEO da empresa de logística MTM Logix, Mario Veraldo, os problemas deixaram de ser pontuais e passaram a ser estruturais. “Os portos operam hoje no limite. Equipamentos obsoletos, falta de manutenção e investimentos abaixo do necessário criam um cenário insustentável”, afirma.

Em 2024, o Brasil destinou apenas 2,2% do PIB à infraestrutura, quando o ideal seria investir cerca de 4,3% para atender às demandas previstas para as próximas três décadas. A situação é ainda mais crítica diante do crescimento das exportações do agronegócio, que somaram US$ 164,4 bilhões no último ano, representando 48,9% de todas as exportações do país.

De acordo com dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), o país deixou de embarcar 637.767 sacas de café em março de 2025, o que equivale a cerca de 1.932 contêineres. O prejuízo com os gargalos logísticos foi de R$ 8,9 milhões apenas nesse mês.

Desde junho de 2024, os custos extras causados pela infraestrutura portuária deficiente já somam R$ 66,5 milhões. A não exportação do café em março resultou também na perda de R$ 1,51 bilhão em receita cambial.

Segundo o Boletim Detention Zero (DTZ), elaborado pela startup ElloX Digital, 55% das embarcações (179 de 325 navios) tiveram atrasos ou mudanças de escala nos principais portos do país em março. Em terminais como o de Santos, o tempo de espera de contêineres pode ultrapassar 40 horas e chegar até dez dias.

A capacidade instalada atual dos portos brasileiros é de 234 milhões de toneladas. No entanto, a demanda prevista para 2028 é de 238,9 milhões de toneladas. Veraldo alerta que, sem ampliação e modernização dos terminais, o sistema não dará conta do crescimento. Ele defende investimentos em tecnologia, redução da burocracia e utilização estratégica de alternativas logísticas, como os portos do Arco Norte.

Os impactos da crise portuária chegam até os produtores de café. Rodrigo Reis, gerente de logística da Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado (Expocacer), relata que os gargalos afetam tanto o planejamento quanto a receita dos cooperados. “Os custos operacionais extras poderiam ser usados para valorizar o café. Ao invés disso, são usados para contornar falhas estruturais”, afirma.

Mesmo com medidas preventivas como o planejamento logístico antecipado e a seleção criteriosa de armadores, a Expocacer continua enfrentando dificuldades como a escassez de contêineres, mudanças nos prazos de embarque e altos custos com pedágios em rodovias de pista simples.

“A falta de previsibilidade impacta toda a cadeia. Quando o navio atrasa ou antecipa, precisamos reposicionar cargas, pagar taxas extras e enfrentar prazos estourados, o que gera um efeito cascata de ineficiência”, explica.

Para reduzir os impactos financeiros, a Expocacer intensificou sua atuação institucional. A cooperativa participa dos Comitês Logísticos do Cecafé e acompanha as diretrizes da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ). Internamente, criou um setor de auditoria para revisar cobranças portuárias, o que tem permitido reverter tarifas indevidas.

“O Brasil precisa repensar urgentemente sua logística. De nada adianta promover o café no exterior se não conseguimos embarcá-lo com previsibilidade e custo competitivo. Seguimos operando com uma infraestrutura ultrapassada, enquanto as exportações aumentam ano após ano”, conclui Reis.

Para a MTM Logix, a superação do problema exige ação coordenada entre governo, setor privado e produtores. A digitalização e a automação são apontadas como ferramentas-chave para transformar a logística portuária, reduzindo erros, acelerando processos e aumentando a produtividade nos terminais.

Segundo Veraldo, sistemas inteligentes permitem desde a liberação de cargas até o controle de estoques, enquanto a integração digital entre todos os agentes da cadeia logística — transportadoras, armadores, operadores portuários e reguladores — viabiliza uma comunicação mais eficaz.

Contudo, ele ressalta que a modernização só será possível com o engajamento do poder público. “É essencial ampliar os investimentos em infraestrutura, incentivar a participação da iniciativa privada, desburocratizar a regulação, integrar os modais de transporte e qualificar a mão de obra. Sem isso, os portos brasileiros continuarão travando o potencial logístico do país”, finaliza o executivo.

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