Uma megaoperação deflagrada nesta terça-feira (13) pelo Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (GAECO/MPRJ), com apoio da Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI/MPRJ) e da Polícia Civil, revelou uma nova dinâmica no crime organizado: criminosos de outros estados estão migrando para o Rio de Janeiro e assumindo postos de liderança em comunidades dominadas pelo tráfico.
Batizada de Plexo, a operação cumpre 22 mandados de prisão preventiva e 21 de busca e apreensão contra integrantes de uma célula interestadual do Comando Vermelho.
Entre os endereços, estão mansões em condomínios de luxo na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio. Em um dos locais foram encontrados armamento de grosso calibre. Veja abaixo:
A investigação revelou que o armamento seria usado no fortalecimento e em expansões territoriais da facção no Rio, inclusive na zona oeste da capital, e em outros estados da federação. Até o momento, seis criminosos foram presos.
Os mandados, expedidos pela 3ª Vara Criminal de Duque de Caxias, também foram cumpridos em áreas com forte atuação do tráfico, como Grota, Itanhangá, Pavuna, Rocha Miranda, Benfica, Guadalupe, São Cristóvão e Riachuelo.
Os alvos atuam em favelas do Rio, como o Complexo do Alemão, Muzema, Cidade de Deus, Penha e Duque de Caxias, além de cidades na Paraíba (Cabedelo e João Pessoa), São Paulo (Araras e Fazendinha) e Mato Grosso (Pontes e Lacerda).
A facção, segundo as investigações, vinha adotando uma estratégia de importação de criminosos com experiência e capacidade operacional de outros estados para atuar no Rio de Janeiro, ampliando sua logística, comando e blindagem contra a repressão estatal.
Dois desses nomes ganharam destaque na apuração: Jonathan Ricardo de Lima Medeiros, o “Dom”, identificado como líder da célula paraibana do Comando Vermelho, e Luiz Carlos Bandeira Rodrigues, o “Da Roça”, com atuação ligada à comunidade da Muzema.
Escondidos no Complexo do Alemão, ambos coordenavam à distância o transporte de drogas e armas entre estados, o abastecimento de comunidades fluminenses e sofisticadas operações de lavagem de dinheiro, envolvendo contas bancárias e empresas espalhadas pelo país.
Entre os denunciados está também Edgar Alves de Andrade, conhecido como “Doca”, além de outros foragidos de seus estados de origem, incorporados à organização criminosa no Rio. Todos os alvos foram denunciados por crimes como tráfico de drogas, associação para o tráfico, porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, comércio ilegal de armas, falsidade ideológica e lavagem de capitais.
As autoridades apontam que a facção atuava com elevado grau de profissionalização, utilizando ferramentas de comunicação segura, divisão de tarefas bem definida e mecanismos de ocultação de patrimônio.
Segundo investigadores, a presença de lideranças de outros estados contribuiu para aumentar a resistência da organização à repressão e expandir sua atuação para além das fronteiras fluminenses.
As condutas envolviam ainda lavagem de dinheiro. Foi observada uma movimentação de R$ 5 milhões em menos de um mês, por exemplo. Por conta disso, os agentes representaram pelo bloqueio de cerca de R$ 40 milhões em bens e valores de pessoas físicas e jurídicas ligadas ao grupo.
Além da captura dos alvos e da coleta de evidências para robustecer as investigações, a operação também busca a asfixia financeira do grupo, para interromper esse engrenagem. A consequência imediata esperada é a interrupção na logística para obtenção de armas e de drogas a lideranças do CV que atuam em diversas comunidades.