A morte do caseiro Jorge Ávalo, de 60 anos, atacado por uma onça-pintada no Pantanal do Mato Grosso do Sul em um evento considerado atípico, levanta diversas hipóteses sobre o que pode ter levado o felino a um comportamento tão incomum.
Onças-pintadas normalmente têm medo de humanos e tendem a evitar sua presença. Porém, alguns fatores podem ter contribuído para o trágico acidente.
Imagens das câmeras instaladas na fazenda onde Jorge trabalhava foram encaminhadas para perícia
Um dos pontos centrais levantados pelas autoridades é a oferta de alimento para animais silvestres, conhecida como “ceva”, na região onde Jorge trabalhava. Embora não haja confirmação de que havia ceva proposital no local exato do ataque, a prática é reconhecida como um problema na região do Pantanal.
O coronel José Carlos Rodrigues, comandante da PMA (Polícia Militar Ambiental), afirmou que essa prática, além de configurar crime ambiental, é extremamente perigosa, pois pode provocar alterações no comportamento natural dos animais.
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Ao serem alimentados, os animais selvagens podem perder o medo de se aproximar de seres humanos, associando a presença humana a uma fonte de comida. Onças-pintadas normalmente evitam a presença humana e não veem os seres humanos como presas naturais.
Entenda o que você deve fazer caso encontre animal
Outro fator relevante é a condição física debilitada da onça capturada. O animal estava bem magro, com um peso abaixo do esperado, e o primeiro boletim médico apontou alto grau de desidratação, deficiência hepática e mau funcionamento dos rins.
Essa fragilidade física pode ter influenciado o comportamento da onça, possivelmente levando-a a atacar em busca de alimento mais fácil devido à escassez de presas naturais ou à dificuldade de caça em seu estado de saúde.
A habituação à presença humana é outra possível explicação. O professor Gediendson Araújo, especialista que acompanha o caso, mencionou que o incidente pode estar relacionado à “aceitação” de animais silvestres à presença de humanos, levando o animal a perder o medo de ver o homem como um predador maior.
O sobrinho da vítima também relatou que a onça rondava o pesqueiro regularmente e que o tio se descuidou, talvez acostumado com a presença do animal. Imagens de câmeras de segurança flagraram a movimentação da onça pela região do rancho, indicando uma possível familiaridade com o local.
As autoridades também consideram outras hipóteses para o ataque, como comportamento defensivo, caso a onça estivesse defendendo filhotes ou uma presa, o período reprodutivo do animal, que pode tornar os machos mais agressivos, ou alguma atitude involuntária da vítima que possa ter desencadeado o ataque. Jorge foi atacado enquanto tentava coletar mel próximo à mata, uma área de possível encontro com a fauna local.
O Instituto Onça-Pintada reforça que a onça não vê o ser humano naturalmente como uma presa natural. Ataques como este são considerados raros.
Entenda como perícia vai revelar se caseiro foi engolido
A captura da onça permitirá uma avaliação mais detalhada de seu estado de saúde e comportamento, além da análise das imagens e outros materiais coletados para a perícia, buscando entender melhor o que motivou essa trágica ocorrência. A instalação de câmeras fotográficas na área do incidente também auxiliará no monitoramento da fauna local e na compreensão da dinâmica do ambiente.