O mercado de farelo e óleo de soja tem experimentado mudanças significativas, com preços internos e internacionais sendo influenciados por uma série de fatores, como a oferta global, o comportamento da demanda e as políticas econômicas de países produtores. O relatório Agro Mensal, divulgado pela Consultoria Agro do Itaú BBA, oferece uma análise detalhada sobre o atual cenário desses produtos.
Em março, o preço do óleo de soja sofreu uma queda de 7,2% na Bolsa de Chicago, refletindo a diminuição nos preços do petróleo. Entretanto, o mercado apresentou sinais de recuperação na parcial de abril, com uma alta de 9,4%, alcançando USD 46,6/lb. O farelo de soja, por sua vez, teve uma queda de 0,6% em março, seguida de uma redução adicional de 1,3% na primeira quinzena de abril, com o preço atingindo USD 292/t. Essa diminuição nos preços do farelo é resultado da crescente oferta global e da demanda mais fraca, especialmente no mercado americano, agravada pela incerteza relacionada à guerra comercial entre os EUA e a China.
No Brasil, os preços internos do farelo se mantiveram estáveis, mas com viés de baixa. Em Rondonópolis, a redução foi de 0,4% em março e de 0,6% na primeira quinzena de abril. Para o óleo de soja, o recuo foi de 2,1% em março, seguido de uma queda de 0,3% no início de abril, situando-se em R$ 5.863/t. A demanda interna, principalmente do setor de biodiesel, tem sido morna, impactando diretamente nos preços.
Em março, o Brasil exportou 204,1 mil toneladas de óleo de soja, um aumento expressivo de 82% em relação a fevereiro e 52,8% superior ao volume embarcado no mesmo mês do ano anterior. No acumulado do primeiro trimestre de 2025, as exportações atingiram 405 mil toneladas, 74% a mais que no mesmo período de 2024. Esse crescimento se reflete na maior competitividade das exportações brasileiras, impulsionadas por uma oferta robusta de soja e derivados.
A previsão para o mercado de farelo de soja aponta para uma expansão na oferta global, impulsionada pelo aumento do esmagamento de soja no Brasil e na Argentina. O USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) revisou para cima o esmagamento de soja tanto no Brasil quanto na Argentina no relatório de abril. O Brasil deve processar 57 milhões de toneladas de soja na safra 2024/25, um aumento de 1 milhão de toneladas em relação à previsão anterior. Consequentemente, a produção de farelo de soja também foi revisada para cima, atingindo 44 milhões de toneladas.
A Argentina, por sua vez, revisou sua estimativa de esmagamento para 42,6 milhões de toneladas, o que também resultou em um aumento nas exportações de farelo. Esse aumento na capacidade de esmagamento no Brasil e na Argentina, junto com o crescimento no processamento nos EUA, gerará uma oferta maior de farelo no mercado internacional, o que pode pressionar os preços para baixo, uma vez que a demanda não deve crescer no mesmo ritmo da oferta.
Recentemente, a Argentina anunciou um pacote de medidas econômicas que incluem a unificação dos tipos de câmbio e a flutuação livre do peso, o que pode estimular a venda de grãos por parte dos produtores. Com a eliminação das restrições cambiais e a promessa de novos recursos financeiros de instituições como o FMI, a expectativa é de que os produtores argentinos voltem a vender suas colheitas, um comportamento que estava estagnado devido à alta inflação e ao spread cambial.
Essas medidas podem ter impacto direto na oferta de soja e derivados no mercado global, especialmente se o aumento da produção e das exportações argentinas impulsionar a competição no mercado de farelo.
O mercado de farelo e óleo de soja enfrenta desafios significativos, com uma oferta crescente e uma demanda que ainda está abaixo das expectativas. No entanto, as exportações brasileiras mostram uma tendência positiva, o que pode oferecer uma compensação para a queda nos preços internos. Além disso, as medidas econômicas da Argentina podem afetar a dinâmica do mercado global, tornando o cenário ainda mais imprevisível.