O padre da Diocese de Assis/SP, Anderson Santana Cunha, de 33 anos, teve dois contatos com o papa Francisco, que faleceu nesta segunda-feira, 21 de abril, aos 88 anos, em decorrência de um acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência cardíaca. A primeira ocorreu em 12 de outubro de 2022, quando estudou em Roma, na Itália, em uma audiência geral que o pontífice realizava semanalmente na Praça de São Pedro, no Vaticano. Já o segundo encontro ocorreu em 8 de maio de 2024, quando o papa escolheu a paróquia em que Anderson residia para se encontrar com os padres do centro de Roma. “Ele me ensinou que a ternura é a linguagem do Evangelho”.
Natural de Nantes/SP, padre Anderson foi ordenado sacerdote em 2017, realizando seus estudos em Roma, onde concluiu o mestrado e o doutorado em Teologia pela Pontifícia Universidade Lateranense. Atualmente, é vice-reitor do Seminário Sagrado Coração de Jesus e professor de Teologia na Faculdade João Paulo II, ambos em Marília/SP, e vigário paroquial da Paróquia Nossa Senhora do Patrocínio, em Maracaí/SP.
“Encontrei-me pessoalmente com o Papa Francisco em duas ocasiões muito especiais. A primeira foi no dia 12 de outubro de 2022, uma quarta-feira, dia de audiência geral na Praça de São Pedro, logo que cheguei a Roma para iniciar meus estudos. A segunda aconteceu no encerramento da minha jornada acadêmica na Cidade Eterna, em 8 de maio de 2024, quando o Papa escolheu justamente a paróquia onde eu morava para um encontro com os padres do centro de Roma. Foi ali que pude reencontrá-lo e pedir sua bênção para minha nova missão no Brasil”, conta padre.
Além desses dois encontros marcantes, Anderson teve outros momentos próximos ao Santo Padre. Em 2013, ainda seminarista, participou da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro. Em Roma, esteve presente em diversas celebrações presididas por ele na Basílica de São Pedro – como a Missa pelo Dia Mundial dos Pobres, a Missa Crismal e o funeral do Papa Emérito Bento XVI. Participou também de encontros com padres estudantes e com o clero da Diocese de Roma. “Há um detalhe que me enche de alegria, realizei meu doutorado em Teologia na Pontifícia Universidade Lateranense, carinhosamente conhecida como a ‘universidade do Papa’”.
“Confesso que o primeiro encontro foi uma verdadeira surpresa. Não imaginava que conseguiria me aproximar do Papa. Ao final da audiência pude cumprimentá-lo, me apresentei, disse que estava em Roma para estudar e pedi que abençoasse um terço para minha mãe – ele o fez com muito carinho. Ainda perguntei se poderia abraçá-lo e, com simplicidade, ele me respondeu que sim. Um gesto que jamais esquecerei”, contou Anderson.
“A segunda vez foi ainda mais inesperada. Já com as malas prontas para voltar ao Brasil, soube que o Papa visitaria a paróquia onde eu vivia, a Basílica de Santa Cruz. No dia 8 de maio de 2024, nos reencontramos. Pedi sua bênção para a missão que me aguardava e fui acolhido novamente com aquele olhar terno e atencioso. E quando soube que eu era brasileiro, abriu um largo sorriso – um pequeno gesto que disse muito”, ressaltou.
“Penso que esses dois encontros foram sinais da bondade de Deus para comigo. Senti como se o Papa me acolhesse tanto na chegada quanto na partida. Foram bênçãos para dois momentos decisivos da minha vida. O que mais me inspira em Francisco é a sua ternura. O seu carinho, sua atenção, sua proximidade – tudo isso me ensina profundamente sobre como ser sacerdote. Ele tem aquela sensibilidade tão própria do nosso povo latino-americano: usa o afeto como linguagem do Evangelho. Ser padre é isso, é ser sinal da ternura de Deus. E foi isso que o Papa Francisco me ensinou com o seu jeito de ser”, completou padre Anderson.
Sobre o falecimento do papa Francisco, o padre concluiu com um detalhe ‘bonito e simbólico’. “Ele faleceu na segunda-feira que sucede o Domingo de Páscoa. Na tradição católica, a celebração pascal não termina no domingo; estendese por toda a Semana Pascal (a oitava de páscoa). Assim, o Papa Francisco, de certo modo, ainda celebrava conosco as alegrias da Páscoa quando começou a sua Páscoa definitiva, unindose a Cristo ressuscitado”.