22/04/2025 - 18:02
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Como a PF descobriu parceria entre o PCC e a máfia italiana ‘Ndrangueta

A expansão da maior facção do Brasil pelo mundo é vista como um desafio pelas autoridades brasileiras. Muitos investigadores definem o Primeiro Comando da Capital (PCC) como uma “multinacional”, com divisões hierárquicas, aparato operacional e exportações com logística avançada.

Recentemente, um relatório do Ministério da Justiça apontou parceria entre a facção e sua rival histórica: o Comando Vermelho, do Rio de Janeiro. No entanto, investigações da Polícia Federal apontam que não é apenas essa. E pelo mundo o PCC se aliou à rede ‘Ndrangueta, da máfia italiana.

Não à toa que o nome de uma operação que corre na PF do Paraná já com duas fases é chamada de “Mafiusi” (em referência à máfia e mafiosos).

O relatório dessa investigação, ao qual a CNN teve acesso, mostra uma linha do tempo e uma análise minuciosa que começou em 2019, com um pen drive, que continha a gravação de uma reunião entre integrantes do PCC, em São Paulo, com mafiosos.

“A gravação é longa e rica em detalhes reveladores da dinâmica da ORCRIM [organização criminosa] liderada por JEFERSON BARCELLOS e da atuação da organização mafiosa ‘NDRANGUETA no Brasil. Em suma, os assuntos principais são uma cobrança de pagamento por um “trabalho” executado recentemente por JEFERSON BARCELLOS e sua “equipe” em Paranaguá [PR], o assassinato de um indivíduo de Paranaguá seguido do roubo de grande soma em dinheiro paga pelos ASSISI e o reinício da atuação de JEFERSON BARCELLOS no tráfico internacional de drogas juntamente com os integrantes da organização mafiosa ‘NDRANGHETA no Brasil”, aponta a PF.

Essa gravação era dentro do inquérito “Operação Retis”. O inquérito diz que o vínculo com os fatos apurados ficou ainda mais evidente e detalhado com a análise desse conteúdo de um pen-drive apreendido naquela ocasião. O item tinha um gravador portátil contendo o áudio de uma reunião entre Nicola Assisi, um homem não identificado, e Jefferson Barcellos de Oliveira, que estava acompanhado de outro homem não identificado (HNI), referindo-se a ele como “Sobrinho”. A reunião teria ocorrido no início do mês de fevereiro de 2019.

A Polícia Federal também analisou imagens do circuito de segurança do prédio onde aconteceu a reunião e identificou os presentes.

A PF começou a ligar o PCC com a máfia italiana a partir das drogas apreendidas no Porto de Paranaguá, no Paraná, segundo maior porto do Brasil.

Na casa dos mafiosos italianos também foi apreendido um caderno contendo anotações do número de contêineres contaminados com droga no Porto. Eram anotações referente à contabilidade de valores e quantidade de carregamentos de cocaína movimentados, países de destino no exterior, nicknames de usuários no aplicativo Skyecc, pacotes de cocaína com o mesmo emblema (“Icon”) dos que foram apreendidos no Porto de Paranaguá.

“Oportuno consignar desde já que ficou comprovado o vínculo da facção criminosa PCC com os fatos apurados na presente investigação, tanto relacionado ao tráfico internacional de drogas quanto a lavagem de dinheiro”, detalha o delegado Eduardo Verza.

A PF aponta que os elementos obtidos por meio da quebra do sigilo dos dados telemáticos obtidos na Operação Retis demonstraram que havia um carregamento de cocaína sendo entregue em Paranaguá exatamente durante a madrugada de 17/03/2020 e que seria exportado pelo grupo chefiado por Jefferson Barcellos. “Portanto, não há dúvidas de que vieram de São Paulo para Paranaguá com a finalidade de supervisionar presencialmente essa ação criminosa”, diz o relatório de 504 páginas da PF.

A PF também teve uma colaboração premiada que auxiliou na obtenção de outras provas no caso.

Os integrantes da máfia ‘Ndrangheta eram os italianos Nicola Assisi e Patrick Assisi, que foram presos durante a investigação em 8 de julho de 2019, em Praia Grande (SP), por mandado de prisão para fins de extradição expedido pelo Supremo Tribunal Federal.

Para a PF, ficou evidente que os dois contratavam o PCC, por meio de Jefferson Barcellos, para envio de cocaína de Paranaguá para a Europa.

A apuração que decorreu da Retis é conduzida pelo Grupo de Investigações Sensíveis (Gise) do Paraná e aponta três núcleos desse esquema: operacional (tráfico); liderança (coordenação); e financeiro (lavagem de dinheiro).

Ela foi deflagrada em dezembro do ano passado, com determinação de mandados de prisão e 35 mandados de busca e apreensão. Alguns desses mandados foram cumpridos na Itália, por meio de cooperação internacional, e bloqueio de ativos financeiros em relação a 79 pessoas físicas e jurídicas. A estimativa dos valores dos bens apreendidos alcança o montante de R$ 126 milhões.

Entre os presos estava o líder apontado pela PF, Willian Agati, chamado de “Concierge do PCC”, uma espécie de “faz tudo”. A representação inicial da PF foi enviada ao Ministério Público Federal, que denunciou os investigados à Justiça.

Ele é identificado como “contratante da logística e fornecedor da droga” e usava o nickname “Boxeador”. Ele é o principal alvo dessa investigação da PF.

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