O padre Júlio Lancellotti disse em entrevista à CNN nesta segunda-feira (21) acreditar que o papa Francisco “iniciou um caminho irreversível” e que seu sucessor dará continuidade às reformas na Igreja Católica.
Lancellotti recebeu a CNN na Paróquia São Miguel Arcanjo, no centro de São Paulo, e falou sobre a morte do Papa Francisco, anunciada nesta segunda-feira no Vaticano.
“Acredito que o papa Francisco iniciou um caminho que é irreversível. Imagine um novo papa que seja contra os imigrantes, que não dê palavras de apoio aos refugiados […] Não é possível que os cardeais que estarão reunidos em Roma não terão discernimento para perceber que a Igreja está se aproximando do seu mestre, que é Jesus”, disse.
O sacerdote defendeu que, durante os anos em que ocupou o Trono de Pedro, Jorge Mario Bergoglio realizou a aproximação da igreja com os ideais cristãos de maneira “particular”.
“Veja os acenos do papa para a comunidade LGBT: ele recebeu um grupo de pessoas trans no Vaticano. Ele ligava diariamente para Gaza para falar com a comunidade palestina. É um Papa ligado com os moradores de rua, que criou no Vaticano um refeitório, dormitório e lavanderia. É possível que venha alguém a por portas novamente? O papa dizia que a Igreja não é uma aduana, mas de acolhimento”, completou.
Questionado sobre se acredita na sucessão por um papa “não-europeu”, padre Júlio disse não achar necessário o uso de “etiquetas”: “Acredito que o papa tem de ser cada vez mais humano, com uma humanidade que se aproxima de Jesus”, completou.
Nos 12 anos de pontificado, Francisco fez diversas reformas financeiras e administrativas no Vaticano. Uma das principais é a Reforma da Cúria Romana, o governo central da Igreja Católica. O Papa abriu a possibilidade que laicos, inclusive mulheres, possam comandar os dicastérios, ou seja, os ministérios da Santa Sé.
A reforma já está em prática com duas mulheres, ambas religiosas. Raffaella Petrini, nomeada governadora do Estado da Cidade do Vaticano e Simona Brambilla, a primeira Prefeita do Dicastério para a Vida Consagrada.
Além disso, desde que assumiu o papado, defendeu o acolhimento de divorciados na Igreja Católica, inclusive com a possibilidade de comunhão para aqueles que se casam de novo, postura criticada pelo clero ultraconservador.