21/04/2025 - 16:04
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SP tem laboratório pioneiro no país que ‘constrói’ perfil de autores de homicídios e crimes sexuais

SP tem laboratório pioneiro no país que ‘constrói’ perfil de autores de homicídios e crimes sexuais

A morte de uma mulher no bairro São Lucas, na zona leste de São Paulo, deixou os moradores assustados. O crime aconteceu em julho do ano passado. O corpo da vítima, de 35 anos, foi encontrado dentro de um carro. Àquela altura, ainda não havia suspeitos ou qualquer informação sobre o responsável pelo crime. O Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) foi acionado para investigar o caso e identificar o criminoso.

Por causa da complexidade do caso, o Laboratório de Perfilamento Criminal do DHPP foi acionado pelos investigadores. A equipe do laboratório usa técnicas de observação e investigação comportamental para identificar o criminoso. Além disso, também traça o perfil da vítima, ajudando a entender as motivações por trás do crime.

Na época, a equipe iniciou a investigação ainda no local do crime, analisando a cena do homicídio e coletando as evidências por meio de uma série de indícios. 

Os investigadores analisaram uma série de elementos: desde câmeras de segurança — onde foi possível observar as características do autor, a escolha do local do crime, os ferimentos na vítima e outros detalhes que ajudaram a construir o perfil do criminoso. Em poucas horas, os policiais conseguiram traçar o perfil do principal suspeito.

Com as informações obtidas pela equipe, os investigadores puderam descartar o envolvimento do primeiro suspeito, que não condizia com o perfil traçado pelos policiais do laboratório.

O assassino da mulher foi identificado e teve 100% de compatibilidade com o perfilamento descrito no relatório que a equipe do laboratório apresentou durante as investigações. O criminoso, que teve um envolvimento amoroso com a vítima, permanece preso por feminicídio.

As técnicas utilizadas pela equipe auxiliam em casos de homicídios e crimes de cunho sexual investigados pelo DHPP. O trabalho dos perfiladores não exclui a atuação do investigador, delegado ou perito. Ele complementa a investigação, oferecendo uma visão diferenciada que ajuda a entender as motivações que levam ao cometimento do crime.

O psicólogo e perito, coordenador do laboratório, Christian Costa, destacou que o trabalho de perfilamento exige uma análise muito detalhada da cena do crime. Somente aqueles com treinamento em perfilhamento criminal e análise comportamental conseguem chegar a conclusões com maior agilidade.

“Quando um cadáver é encontrado e não há suspeitos, há elementos que constam no campo comportamental e técnico na cena do crime. As decisões tomadas pelo autor, deixam ali um DNA comportamental “, explicou o coordenador. “Cada passo dado pelo criminoso na cena do crime reflete uma decisão. Cada atitude e comportamento dele estão claramente evidenciados na cena”, afirmou.

Pioneiro no Brasil, o laboratório busca alcançar técnica própria

O laboratório de perfilamento criminal do DHPP é o primeiro do Brasil e atua há mais de um ano, sendo decisivo na identificação de autores e no esclarecimento de crimes. 

A criação do setor especializado surgiu da necessidade de analisar casos de maneira diferente. Segundo a diretora do DHPP, Ivalda Aleixo, a ferramenta complementa o trabalho investigativo.

“Precisávamos de uma equipe que, além do conhecimento policial, tivesse expertise no comportamento humano. Queríamos entender o que falhou na investigação ou até mesmo o que deixamos passar”, explicou a delegada. “Então, buscamos referência nessa técnica, amplamente utilizada nos Estados Unidos, e a adaptamos para a realidade brasileira”, acrescentou.

Embora a técnica seja inspirada em modelos internacionais, a equipe está desenvolvendo um protocolo próprio que se adeque aos tipos de crimes ocorridos no Brasil.

“As técnicas aplicadas aqui são frequentemente modeladas às decisões do criminoso. O laboratório tem a preocupação de ter o nosso entendimento a partir de cada caso para a gente responder efetivamente”, disse Christian Costa. “Nosso objetivo é buscar informações detalhadas, analisando os elementos com atenção às particularidades de cada caso.”

A perita criminal, Alessandra Moraes, explicou que o laboratório analisa, como parte do método, os vestígios encontrados na cena do crime e cruza com as informações colhidas nos depoimentos. “O que precisamos para levantar o perfil de um criminoso é enxergar a cena do crime como um resultado de um comportamento. Cada ação é consequência de uma série de decisões”, contou a perita. “Ao entender essas decisões, conseguimos traçar o perfil do criminoso.”.

Além do coordenador do grupo, a equipe é composta por profissionais capacitados, incluindo uma delegada, investigadores, psicólogos, estagiários, peritos, advogados criminalistas e criminólogos e fotógrafos especializados em cenas de crime. Eles já auxiliaram em 11 casos.

Levantamento do perfil da vítima

“Por que a vítima estava naquele local? Para onde foi levada? De qual forma? Ela foi atraída por algum tipo de armação?” Essas são algumas das perguntas que os agentes buscam responder para entender o perfilamento da vítima.

“Compreender o comportamento da vítima em relação ao crime é importante para a gente começar a traçar alguns parâmetros comportamentais do autor também”, informou o investigador Lucas Martins, membro do laboratório. “As atitudes da vítima nas últimas 24 horas podem trazer caminhos ainda não explorados, além de ajudar a reconstruir o comportamento do autor”, prosseguiu. 

O laboratório realiza o perfilamento da vítima por meio do estudo da vitimologia, que é uma área da criminologia que investiga as vítimas de crimes e os impactos desses eventos. Esse estudo não apenas examina as características das vítimas, mas também analisa a interação entre elas e os agressores, além de considerar o papel da sociedade e do sistema judicial nesse contexto.

Ética e respeito na análise comportamental

O laboratório do DHPP é comprometido com a ética e o respeito no perfilamento. O trabalho é baseado na consulta da legalidade dos procedimentos éticos e morais frente à família e ao direito de ampla defesa do investigado.

“Nós temos muita preocupação em não perpassar o preconceito, em não atravessar questões de foro íntimo e questões de minorias. O nosso papel é técnico-científico, com base na observação do comportamento”, ressaltou o coordenador do grupo. 

De acordo com a portaria que solicita a criação do setor de análise comportamental e criminal, os procedimentos devem ser realizados dentro dos limites da lei, respeitando os direitos fundamentais dos envolvidos. “Aqui, garantimos a dignidade do suspeito e seus direitos fundamentais. Nosso trabalho tem o cuidado de evitar qualquer estigmatização”, concluiu Ivalda Aleixo.

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